TEM, MAS ACABOU

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Por que podemos morrer de sede

O Governo do Estado de São Paulo, que negou durante meses o racionamento de água, finalmente admitiu: não vai ter água para todo mundo o tempo inteiro na cidade. Tudo o que a população se acostumou a fazer está com os dias contados. Não vai dar mais para lavar a louça como se a torneira fosse uma miniatura das cataratas do Iguaçu. A mangueira não pode mais ser vassoura - mesmo que seja só para dar um banho de leve no chão de ardósia. O banho é só para tirar o suor e não para resolver uma série de questões de você com você mesmo. Chegou inclusive a hora da agricultura e da indústria, setores que mais consomem água, trabalharem contra o desperdício. O despreparo do governo é uma bela oportunidade para uma profunda mudança de hábito. A combinação de água potável com preço baixo não tem futuro. A economia tem de ser para valer. Senão, todos morrerão de sede - ou mudarão de cidade.

Texto
Leandro Beguoci, do Gizmodo Brasil
Design
Hugo Luigi

A CRISE DA ABUNDÂNCIA

São Paulo vive o capítulo mais grave de um problema ainda maior. Ao longo dos últimos anos, a exceção foi transformada em regra. Abundância de água é uma raridade milenar. A primeira civilização da história, a Suméria, surgiu quando as pessoas domaram a seca na Mesopotâmia, onde hoje fica o Iraque, e construíram as bases para o pontapé inicial do mundo tal como o conhecemos.

O caso de São Paulo, assim como o de outras partes do planeta, é o oposto. Em vez de administrar a escassez, a sociedade local produziu um negócio mais raro: a falta de água que nasce da abundância. No Brasil, consumimos uma média de 200 litros diários, quase o dobro do necessário apontado por um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas). Veja o infográfico abaixo:

COMO A ABUNDÂNCIA VIRA DESPERDÍCIO

Qual a medida?

Segundo a ONU, uma pessoa precisa de 110 litros de água, por dia, para viver

Desperdício

TOMAR Banho de ducha
por 15 minutos

135 litros

Lavar calçada com mangueira por 15 minutos

279 litros

Lavar o carro com mangueira por 30 minutos

216 litros

A cidade flutuante

Há várias formas de contar a história de São Paulo. Uma delas é narrar o crescimento da cidade pela atração e repulsa exercida pela enorme quantidade de água acima e abaixo desse aglomerado de casas, prédios, ruas, avenidas e trilhos. Foi essa água, distribuída em rios e córregos, que impulsionou o crescimento e desenvolvimento dessa megalópole ao longo dos últimos quatro séculos - a mesma megalópole que, nos últimos meses, tem vivido sob a sombra calorenta de uma seca sem precedentes. Pela primeira vez na história da ducha de cinco temperaturas, a instituição do banho sem fim do paulistano está ameaçada.

Os primeiros paulistanos usaram os rios Tietê e Tamanduateí, hoje dois esgotos fedorentos, como uma sofisticada rede de abastecimento e defesa. Aquela união de portugueses e índios, que juntos formaram as primeiras famílias brasileiras da futura capital paulista, usava os rios para se defender de invasões e para trocar mercadorias. A tradicional 25 de Março, hoje uma rua de comércio agitado no centro da cidade, é cortada pela ladeira Porto Geral. A 25 era um braço do rio Tamanduateí, e a ladeira realmente terminava num porto importantíssimo para os paulistanos pioneiros.

Mais tarde, à medida em que a cidade crescia, a abundância de água foi atraindo gente de todas as regiões do país. Essa água abastecia as indústrias Matarazzo, dava de beber para quem vinha de tudo quanto é lugar e... também criava problemas. As margens dos rios eram um criadouro de pragas e doenças. Além disso, muito antes dos congestionamentos, havia um problema de mobilidade por causa dos córregos que cortavam a cidade. O que São Paulo fez diante da abundância de chuva e de água? Em vez de manter a água por perto com um plano eficiente, como fizeram outras cidades do planeta, São Paulo tomou uma decisão dura e, vista de hoje, radical: colocou os rios embaixo da terra.

RIO TAMANDUATEÍ

O rio Tamanduateí foi fundamental para o nascimento de São Paulo. Ele funcionava como hidrovia nos primeiros anos da cidade e ainda servia como opção de lazer para os paulistanos.

VALE DO ANHANGABAÚ

O Vale do Anhangabaú era uma área nobre de São Paulo e abrigava palacetes. Naquele tempo, o rio cortava o centro da atual praça e dava um jeitão de Paris à capital paulista.

AVENIDA 23 DE MAIO

O rio Itororó servia para aliviar o calor das pessoas que viviam na Vila Mariana. Hoje, é a avenida 23 de maio - uma das mais movimentadas (e quentes!) de São Paulo.

AVENIDA NOVE DE JULHO

A avenida Nove de Julho foi construída sobre o córrego do Saracura. A nascente dele existe até hoje: está atrás do hotel Maksoud Plaza.

RIOS ENTERRADOS

Alguns dos pontos mais conhecidos de São Paulo foram construídos sobre rios. Veja como algumas regiões centrais da cidade eram cheias de água algumas décadas atrás.

Ver mapa

CADA VEZ MAIS LONGE

Algumas das avenidas mais importantes da cidade, como a Nove de Julho, foram construídas sobre poderosos corredores de água. Em vez de pegar água ali, na esquina, São Paulo se livrou do problema de saneamento jogando cimento em cima dele. E, para garantir o abastecimento de uma cidade em explosão populacional, foi buscar água cada vez mais longe. O Sistema Cantareira, que está cada vez mais seco, depende de água que vem do interior de Minas Gerais. As outras represas que abastecem a cidade também contam com chuvas que caem lá longe... No fim, as fontes que abastecem a avenida Paulista estão a centenas de quilômetros de lá. Isso criou um problema de complexidade: para garantir o abastecimento, não basta chover na cidade de São Paulo. É preciso cair o mundo em muitas outras cidades do Sudeste que, interligadas por rios, jorram água nas represas que abastecem as torneiras da população.

Enquanto o clima era um negócio tranquilo, beleza. Só que o clima do planeta está cada vez mais doido. A complexidade aumentou. Um exemplo simples: a Califórnia, sede de empresas como Apple, Facebook e Google, está passando pela maior seca dos últimos 1200 anos, segundo estudos recentes. Não há "like" que resolva uma torneira seca.

O mundo está cada vez mais estranho. Vários países vivem temperaturas extremas em suas estações quentes e frias. Cientistas cravam que o clima está mudando. E que temos culpa no cartório nessa Era das Catástrofes

A ERA DAS CATÁSTROFES

A Sociedade Americana para o Avanço da Ciência, uma das mais respeitadas organizações científicas do planeta, reuniu especialistas e fez uma pergunta: O clima está mudando? O resultado foi divulgado no começo de 2014: para 97% deles, sim, está. Como está mudando ainda não se sabe direito, mas está. Apesar de uma oposição estridente, que interdita o debate dizendo que mudança climática é coisa de ecoterrorista, tem algo grande acontecendo - e o homem tem um papel nessa mudança. Não é exatamente aquecimento global, mas extremismo climático global. Quando é frio, é muito frio - como mostrou o outono bizarramente gelado nos EUA. Quando é para esquentar, aí ferve. Em 2014, São Paulo teve o verão mais quente da sua história e um dos mais secos de todos os tempos. Não dá para saber o que esperar.

Esse raciocínio foi reforçado por um grande estudo do IPCC, o painel sobre mudanças climáticas da ONU. O estudo, divulgado no começo de 2014, trocou a linguagem catastrofista e cheia de certezas por uma abordagem mais cautelosa e embasada, com um grande número de dados. A conclusão foi similar à enquete com os cientistas: o clima está mudando muito. O impacto pode ser grave e irreversível.

LOUCURA CLIMÁTICA

Muitos cientistas apontam mudanças drásticas em vez de aquecimento global. A mistura de vários fatores, incluindo a intervenção humana, coloca várias regiões em alerta. Veja:

Alasca

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Alasca

Em 2014, o gelado estado norte-americano teve um dos janeiros mais quentes da sua história.

Nova York

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Nova York

As nevascas vêm se intensificando na capital financeira do mundo. Em janeiro de 2015, pela primeira vez na história, o metrô fechou exclusivamente por causa da neve.

Califórnia

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Califórnia

O estado é símbolo da enorme seca americana e entrou em situação de emergência por causa da falta de água. Não só ele, aliás. Os EUA inteiro estão passando por uma das maiores secas desde que as medições começaram.

Amazonas

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Amazonas

Se falta água em São Paulo, sobra no Amazonas. Desde 2009, os rios da região batem recordes de alta. As enchentes estão cada vez maiores.

São Paulo

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São Paulo

O estado teve um dos verões mais quentes e secos da sua história. A falta de chuvas levou ao colapso do sistema Cantareira, que resiste graças à extração de água das profundezas da represa - o chamado volume morto.

Buenos Aires

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Buenos Aires

Nos últimos meses, o país registrou novos recordes de temperatura. As ondas de calor que atingiram o país vizinho foram extremamente severas.

Londres

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Londres

A Inglaterra teve um dos invernos mais chuvosos desde que as medições começaram. O país acostumado com chuva teve ainda mais água nos últimos anos.

Oriente Médio

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Oriente Médio

Em janeiro de 2013, uma das regiões mais quentes do mundo bateu seus recordes de frio. Uma onda gelada varreu o Líbano e Israel. Várias pessoas morreram.

Rússia

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Rússia

O país registrou inacreditáveis -36°C em 2014. Não é o recorde de baixa, mas é suficiente para travar grandes regiões do país.

China

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China

Em julho de 2013, o país teve um dos verões mais quentes da sua história. Pela primeira vez, o governo emitiu um alerta para a população.

Austrália

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Austrália

O oeste da Austrália viveu uma das suas estações mais chuvosas em muito tempo. E não foi só isso. Em 2013, o país quebrou seus recordes de calor - as temperaturas foram acima de 46 °C.

O problema é que as causas disso tudo ainda estão muito longe de serem esclarecidas. Para alguns cientistas, a seca em São Paulo é resultado de uma mudança drástica, mas esperada, no oceano Pacífico. Isso acabaria mexendo com o regime de chuvas no mundo todo. Para outros, tem relação com o desmatamento da Amazônia. Uma parte da umidade que se transforma em chuvas no Sudeste vem da floresta. Com o desmatamento agressivo, isso teria sido interrompido. Ainda não dá para cravar uma dessas hipóteses com 100% de certeza. O nó é que algumas coisas estão acontecendo, e mesmo os fenômenos climáticos já previstos, em novas condições, podem ter resultados inesperados.

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A TRAGÉDIA PAULISTA

Parece que a Sabesp, empresa controlada pelo Governo de São Paulo, já sabia que a seca estava por perto - e não fez muita coisa. No 7º Simpósio de Qualidade Ambiental, feito em 2010, o químico Adilson Nunes Fernandes, da própria companhia, já havia lançado um alerta. Não por causa do clima, mas pelo avanço da cidade sobre mananciais cada vez mais distantes. Uma hora ia dar problema - como deu.

Em 2012, a Sabesp alertou seus acionistas que ela poderia ter problemas de faturamento, no futuro próximo, justamente por causa da seca e de riscos de desabastecimento. A empresa tem ações na bolsa, o que não é um problema em si: isso serve para captar mais dinheiro no mercado para fazer investimentos e crescer. No caso da Sabesp, crescer significa prestar um serviço de excelência em abastecimento de água e tratamento de esgoto. Porém, ela acabou fazendo um serviço ruim tanto para ela quanto para os acionistas.

Diante disso, não tem como pensar: por que nada foi feito? Não houve grandes mudanças políticas no governo e na administração da Sabesp. O estado é governado pelo PSDB desde 1994 - então, não houve aquele problema tradicional de um partido sabotar os projetos de outro. Por isso, vale a pena voltar ao começo deste TAB, quando São Paulo enterrou seus rios embaixo da água. A abundância se tornou inimiga do planejamento.

No verão de 2009/2010, choveu uma calamidade em São Paulo. Cidades da região metropolitana, como Franco da Rocha, ficaram alagadas por dias. Isso aconteceu porque a comporta do hoje claudicante Cantareira foi aberta para dar vazão àquela enormidade de água. Ninguém jamais tinha ouvido falar de volume morto, a reserva que fica abaixo dos tubos de captação e é responsável por manter a vida aquática naquele delicado ecossistema. Mas, sem esse volume retirado do restinho da represa, a água tinha acabado já na Copa do Mundo. O fato é que, mais uma vez, a abundância venceu o bom senso. São Paulo fez de conta que nada estava acontecendo.

Isso tem de mudar. Apesar do cenário catastrófico, algumas soluções novas vêm surgindo para ajudar a lidar com o problema, em várias escalas.

A SALVAÇÃO VEM DA TECNOLOGIA?

Pesquisadores da Índia estão usando nanotecnologia para filtrar água, matando bactérias e limpando impurezas. É o milagre dos íons de prata, e a preços baixos. Estima-se que, por cerca de R$ 10 por ano, dê para abastecer uma família inteira num bairro pobre de São Paulo, por exemplo. Outras tecnologias, desenvolvidas na Europa, apostam em compostos químicos para tratar água a preços cada vez mais baixos, reduzindo o custo pela metade. Isso ajudaria a resolver o problema da água de reuso - aquela água que desce pelos canos depois de você tomar banho e que demorava um tempão para ser tratada até voltar a ser potável de novo. Em lugares onde realmente não têm água doce, como Dubai, a aposta é em dessalinizadores potentes, capazes de transformar milhões de litros de água do mar em líquido pronto para beber.

Só que nem só de tratamento e dessalinização vive um sistema de abastecimento. Muita água ainda é perdida entre as distantes represas e a mangueira que você usa como vassoura. Embora os índices estejam diminuindo em São Paulo, um em cada quatro litros de água é perdido pela Sabesp no caminho. Esse número já foi pior: nos anos 90, era de um para cada três litros.

Por isso, uma empresa na Alemanha, a SebaKMT, está investindo um bocado em sensores. Ela aposta que essa tecnologia vai permitir mapear, em tempo real, vazamentos, riscos de vazamento e ineficiências no sistema. Vai ser possível saber, com som e pressão, quando o cano está prestes a estourar. É um avanço tremendo. Se isso pegar, é o fim da infiltração no seu apartamento - e também daquelas bicas de água que saem da rua quando um cano estoura.

Nanotecnologia, Bill Gates e dessalinizadores são alguns dos trunfos para a humanidade seguir hidratada

A PREVENÇÃO

Boa parte da água do mundo vai para a agricultura. Na prática, o Brasil e São Paulo produzem mais água limpa do que as cidades precisam para não morrer de sede. O nó é que a agricultura consome muito - e às vezes sem nenhum planejamento, como se água não desse um trabalhão para coletar, tratar e transportar. Para se ter uma ideia, 61% da água do Brasil vai para a agricultura. Em São Paulo, esse número cai para 40%.

Ok, agricultura produz alimento - mas também pode fazê-lo sem tanto desperdício. Há alguns progressos em irrigação inteligente e controle de produção, mas ainda tem muito espaço para melhorar. A mesma coisa vale para a indústria, que consome e suja uma enormidade de água. No Brasil, a indústria consome 18% da água. Em São Paulo, 30%. Alguns estudos mostram que esgoto industrial polui quase sete vezes mais do que aquele xixi maroto que escorre pela sua privada. Ah, sempre é bom reforçar: reciclagem também ajuda. A indústria de alumínio é uma das maiores consumidoras de água do planeta. A reciclagem ajuda a diminuir o consumo de energia e de água no processo. Mais um ponto na gincana da economia.

Também vale, claro, ter mais cuidado com a água que está perto de você. Se os governos melhorassem a distribuição, perderíamos muito menos água. Segundo o Governo Federal, 37% da água tratada no Brasil se perde pelo caminho, com vazamentos e ligações ilegais. No estado de São Paulo, o índice fica em torno de 34%. Na região metropolitana de São Paulo, esse número cai para 30%. Mas olha como são as coisas: a quantidade de água perdida na Grande São Paulo equivale à produção de água do sistema Cantareira - justamente o epicentro da crise. E daria para melhorar? Sim. Em alguns lugares da Alemanha, por exemplo, o índice de desperdício é inferior a 10%.

Tem mais. José Galizia Tundisi é uma das maiores autoridades brasileiras em ecologia. Em um artigo, escrito para um grande estudo feito pelo Instituto Socioambiental, ele alerta sobre o quanto os mananciais estão sofrendo com a gigantesca pressão urbana: "A situação dos mananciais da região metropolitana de São Paulo apresenta-se complexa e com tendências a deterioração se os esgotos não forem tratados e a ocupação do solo nas bacias hidrográficas continuar de forma a degradar a cobertura vegetal". Para se ter uma ideia, apenas três cidades do sistema Cantareira têm tratamento de esgoto. Não há produção de água que dê conta quando se insiste em matar as fontes.

Por isso que o cuidado tem de ser constante. Cláudio Pereira de Oliveira, geógrafo e vice-presidente da ABAS (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas), conta que 2,5% da água do mundo é doce: "Mas, desse percentual, apenas 0,78% são águas superficiais disponíveis para uso". Água superficial é o que está em rios (que São Paulo aterrou) e represas (cada vez mais distantes). O grosso está em águas subterrâneas. É por isso que em alguns bairros distantes de São Paulo, por exemplo, algumas pessoas deram um drible na seca cavando poços. Há um lençol freático com água embaixo da cidade - o nó é que isso é ilegal e pode dar sérios problemas de saúde. Você só pode abrir poço com autorização.

Afinal, se todo mundo sair por aí cavando poço sem rumo uma hora vamos arrebentar os lençóis. Suponha que esses lençóis sejam os últimos reservatórios de água fixos na cidade. Imagine todo mundo, desde fábricas a megacondomínios, consumindo água desses poços como se não houvesse amanhã? Como essa água não aparece na conta, ela é um convite ao desperdício. Segundo, quem fez exames para saber se essa água é potável? Cu-i-da-do, como já diria, pausadamente, o técnico Tite, do Corinthians. Há vários estudos para avaliar como, e em que quantidade, os poços podem ser usados.

E EU COM ISSO?

Todas as soluções, claro, são bem-vindas. O Governo de São Paulo está fazendo obras para buscar água em outras regiões do país. O reuso está, aos pouquinhos, entrando na agenda da Sabesp e de outras companhias de abastecimento. A tecnologia é promissora. Mas o problema nunca foi bem de falta de água. O grande problema é a relação da população com ela.

Quem vive em São Paulo se acostumou com água em abundância. Esse colosso de águas fez com que as pessoas desprezassem os rios, inventassem o conceito do "tenho direito ao banho de 30 minutos" e se dessem ao luxo de transformar as estradas hídricas da região em fossas fedorentas cercadas por asfalto de todos os lados. Mais do que nunca, chegou a hora da população de São Paulo mudar sua relação com a água. A era do banho-ostentação precisa acabar.

Senão, pode chover um dilúvio em São Paulo. Se a população não fechar a torneira enquanto estiver lavando louça, se não substituir a mangueira pela vassoura, se as indústrias e a agricultura não ajudarem, se o governo não fizer as campanhas de informação que PRECISAM ser feitas, vai faltar água de novo. É só marcar no relógio. Ou São Paulo aceita que água é um recurso finito ou vai só adiar o dia em que, finalmente, o mundão de rios vai virar sertão - nem que seja um sertão cheio de prédios espelhados.

Leandro Beguoci

Editor-chefe da F451, empresa que publica o Gizmodo Brasil. Nadou muito num rio que, hoje, está canalizado

tabuol@uol.com.br

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Esta reportagem também contou com apoio de:

Leandro Beguoci, do Gizmodo Brasil, reportagem.

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