Uma sensação de desajuste perante o mundo, um vazio que preenche cada fração do tempo, uma quietude desesperadora. Um abatimento que deixa tudo sem cor, uma lentidão inconcebível, um profundo desinteresse pela vida. Pode ser só tristeza? Pode. Mas tudo isso, junto ou misturado, em diferentes níveis de intensidade, pode formar também um verdadeiro mal, segundo especialistas. Pode ser depressão, o “mal do século”. Aliás, cada vez mais é depressão.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) apresentou em 2017 um relatório sobre essa doença no mundo. São 322 milhões de pessoas afetadas, quase a população dos Estados Unidos. No Brasil, esse mal atinge 11,5 milhões – praticamente o número de habitantes da cidade de São Paulo. E as perspectivas em médio prazo preocupam: em 2030, a depressão será a doença mais comum entre nós.
Mas esses dados, por mais chamativos que sejam, não explicam totalmente o fenômeno. Há sempre uma outra visão, e dentro desta existe o contexto comum a milhões de pessoas de uma mesma época, com causas complexas, sintomas subjetivos e entendimentos distintos, inclusive entre profissionais que estudam a situação. As únicas unanimidades sobre as depressões parecem ser o estigma em torno delas e a força com que ameaçam a saúde pública. O desafio é discutir, e quem sabe descobrir, o que esse conjunto de fatores diz sobre a sociedade em que vivemos, nossa maneira de estar no mundo e as chances, se é que elas existem, de reverter essa tendência.