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"YouTube era a única ferramenta que a gente tinha", diz o "midas" KondZilla

Kondzilla fala sobre seu "toque de Midas" no funk e na cena musical brasileira em palestra no Rio2C - Cacalos Garrastazu/Eder Content 2019
Kondzilla fala sobre seu "toque de Midas" no funk e na cena musical brasileira em palestra no Rio2C Imagem: Cacalos Garrastazu/Eder Content 2019

Luiza Pollo

Agência Eder Content, colaboração para o TAB, no Rio

27/04/2019 15h53

Quase 49 milhões de inscritos fazem do KondZilla m dos maiores canais de música no YouTube. Dependendo dos critérios, a página do produtor fica em primeiro ou segundo lugar no ranking mundial, mas apesar da controvérsia sobre a posição no pódio, ninguém discute que Konrad Dantas mudou a história da produção de videoclipes de funk. Tudo isso mesmo depois de banir dos vídeos palavrões, armas e objetificação feminina.

Em palestra durante a Rio Creative Conference, a Rio2C, KondZilla contou sua trajetória e mostrou que construiu uma holding de comunicação com visão empreendedora aliada à sorte e olhar para oportunidade. O produtor fez bombar alguns dos maiores hits brasileiros dos últimos anos. Já ouviu falar de "Bum Bum Tam Tam"? "Olha a Explosão"? "Deu Onda"? O canal KondZilla está por trás de todos esses clipes.

Konrad entrou num mercado que já se desenhava, mas ainda era diluído. Artistas de funk encontraram na internet a melhor forma de divulgar seu trabalho, e muitos deles foram descobertos assim. Foi o caso de Ludmilla, DJ Pedro Sampaio e DJ FP, que participaram do painel que antecedeu a palestra de KondZilla. Os três encontraram na internet a solução para compartilhar seu trabalho. "O funk é um movimento bem democrático, assim como o YouTube. Não poderia ter um casamento melhor", define Pedro Sampaio, dono de um canal com mais de 770 mil inscritos na plataforma.

"Eu não tinha notebook, não tinha equipamento, não tinha condição. Eu falei: vou me virar, é isso que eu gosto. Botei a cara pra trabalhar, pedia computador emprestado pra tocar nas festas, ia sozinho de ônibus", relata o DJ FP, responsável pela popularização do movimento 150 BPM. "Se não fosse o YouTube, papo reto: eu não estaria aqui, não."

Ludmilla fala sobre a cena do funk durante palestra sobre mercado musical na Rio2C - Cacalos Garrastazu/Eder Content 2019 - Cacalos Garrastazu/Eder Content 2019
Ludmilla fala sobre a cena do funk durante palestra sobre mercado musical na Rio2C
Imagem: Cacalos Garrastazu/Eder Content 2019

E essa união não foi pensada, analisa KondZilla. "Não é que o funk teve a visão de veicular no YouTube antes de outros gêneros musicais. Era a única ferramenta que a gente tinha."

Ludmilla também concorda. Ela atingiu milhões de visualizações com a música "Fala Mal de Mim" em 2012. Só o áudio, sem clipe. Notada por Regina Casé e convidada para o programa "Esquenta", a funkeira viu a carreira decolar e assinou com a Warner Music Brasil. "Quando contratei os primeiros artistas de funk, recebi uma crítica na mídia", lembra Sérgio Affonso, presidente da gravadora aqui no país. "Hoje ninguém mais questiona isso. Entrou no mercado e já rola uma reverência. Mas tem que ir além do mercado", afirma.

Quando escuta MPB ou música clássica com som bem alto em casa, Affonso relata que não recebe muita reclamação dos vizinhos. Mas adivinha o que acontece quando ouve funk? "O funk sofre muito preconceito, e eu não sei por quê. É o que a gente vive na favela e expressa pro povo. Infelizmente, é a nossa realidade", diz o DJ FP. "Pô, funk é só alegria, aquela batida, a expressão. Tu abraça de verdade o trabalho dos outros", completa.

A colaboração, aliás, é outro fator essencial na narrativa do funk. KondZilla, por exemplo, usa sua plataforma para apoiar quem ainda não tem espaço. Ele afirma que cobra bem menos de artistas novatos para produzir clipes. Foi para isso que ele criou o KondZilla Apresenta, canal no YouTube para lançar novos talentos com produções mais básicas.

Se as coisas continuarem caminhando como estão, o espaço para esses novos talentos deverá ser amplo. "O funk está na porta do mundo. Ele vai acontecer no mundo", afirma Affonso. "Antigamente, quando a gente falava em parceria com artistas do exterior, pensava em Bossa Nova, clássicos, MPB. Em 50 anos nesse mercado, pouco consegui fazer lá fora. Agora os artistas internacionais estão vindo atrás dos brasileiros. E eles querem funk", completa o executivo.

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