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Trabalhos serviçais para ricos garantem a alta do emprego nos EUA

Maria do Carmo/Folhapress
Imagem: Maria do Carmo/Folhapress

Do TAB, em São Paulo

14/08/2019 04h01

Em um período marcado pela crise econômica e a concentração da renda, atender os caprichos dos mais abastados tornou-se uma próspera indústria nos Estados Unidos.

Os trabalhos voltados para organizar agenda, dirigir carro, esculpir músculos e servir comida para ricos têm se espalhado com força nos centros urbanos e em bairros de classe alta. Para o economista do MIT David Autor, esse "setor" tem um nome: "trabalho da riqueza".

Autor observou que, entre 2010 e 2017, o número de manicures e pedicures dobrou, enquanto o número de instrutores de fitness e especialistas em cuidados com a pele cresceu pelo menos duas vezes mais rápido que a média do aumento do emprego nos EUA, 10% no período.

Esses empregos se tornaram fonte crucial de renda, principalmente para aqueles sem diploma universitário. Os imigrantes preencheram muitas dessas posições.

De acordo com o economista Mark Muro, da Brookings Institution, estima-se que 20% desse trabalho seja feito por pessoas que não são cidadãos legais dos EUA. No geral, eles correspondem a menos de 10% de todo o trabalho dos EUA.

Esse "trabalho de riqueza" cai em duas categorias básicas. Primeiro, empregos de varejo e serviços em tempo integral em locais como salões de beleza e spas. Uma segunda categoria é a apelidada de economia "Uber X" - essa rede nebulosa de economia compartilhada, com pessoas contratadas por meio de mercados online para tornar a vida dos outros mais confortável, como dirigir, entregar e fazer outros serviços sob demanda.

Se por um lado esses empregos oferecem autonomia para os funcionários e conveniência para os consumidores, muitos dos quais não são ricos, por outro, cria-se uma relação entre trabalhadores e clientes puramente impessoal. Já a relação com os empregadores tentam a ter regras cada vez mais vagas, típica do processo de precarização dos direitos trabalhistas.

"Essa economia servil de hoje é muito superior à do final do século 19. As relações entre as classes, antes mediadas pela casa, agora são gerenciadas por meio de um aplicativo que atende a uma grande área metropolitana. Os trabalhadores dessa nova economia de serviçais não vivem com seus empregadores. Você poderia argumentar que havia uma qualidade humana melhor para os velhos relacionamentos aristocráticos", observa Muro. "As plataformas atuais reduzem o que já foi um trabalho em transações simples e perfeitas".

Para o jornalista de economia Derek Thompson, do site "The Atlantic", talvez o preço final desses empregos que mimam os privilegiados não seja apenas a ameaça de exploração, mas uma alienação mais ampla. "Em um mercado digital de máxima conveniência, não há espaço para o atrito da intimidade."

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