Topo

Para ser 'melhor amigo' de influencer, agora tem que pagar

A instagrammer Virgínia Fonseca, que tem mais de 4,7 milhões de seguidores - Instagram/Reprodução
A instagrammer Virgínia Fonseca, que tem mais de 4,7 milhões de seguidores Imagem: Instagram/Reprodução

Letícia Naísa

Do TAB, em São Paulo

21/09/2019 04h00

Amizade é, segundo o dicionário, um sentimento de grande afeição entre pessoas. Diz o ditado que amizade não se compra, se conquista. Mas essa realidade ficou para trás no século 21. Há quem pague para ter amigos, como o jogador Neymar, que tem um gasto médio de 66 mil euros para manter seis "parças" por perto, e há quem pague para ser amigo. A partir do próximo domingo (22), por apenas R$ 14,90 por mês, os fãs de Virgínia Fonseca poderão fazer parte do rol mais íntimo de seguidores da blogueira no Instagram: a lista de melhores amigos nos stories.

Virgínia trabalha com conteúdo na internet desde 2016 e tem um perfil no Instagram bastante ativo. Seus stories começam com "bom dia", terminam com "boa noite" e mostram boa parte da rotina da blogueira. Então qual será a vantagem para quem pagar? "Os assinantes vão ter inúmeros conteúdos como lives, dicas de cabelo, pele, maquiagem, roupas, looks, treino, alimentação, como bombar no Instagram, como manter um canal no YouTube, vão ter sorteios, promoções", conta Virgínia em entrevista ao TAB.

Serão 500 seguidores, entre os 4,7 milhões, que poderão ter acesso ao conteúdo exclusivo da blogueira. Apesar da ideia de vender conteúdo exclusivo na internet não ser nova, Virgínia é uma das pioneiras no Brasil a usar o Instagram para este fim.

Nos Estados Unidos, o negócio na plataforma já é uma tendência. Seguidores da blogueira Caroline Calloway, por exemplo, podem ter acesso à lista de melhores amigos desde agosto por US$ 2 por mês. Atualmente, ela tem 342 melhores amigos. Os amigos ainda mais especiais que pagarem US$ 100 por mês têm a oportunidade de conversar com a influenciadora por uma hora por Skype.

No modelo de negócio de conteúdo exclusivo, o Instagram não está sozinho. Outras plataformas, como o YouTube, oferecem o serviço de assinatura por conteúdo na internet. No Snapchat, jovens, a maioria mulheres, vendem conteúdo pornográfico "premium" para assinantes. Até mesmo no WhatsApp tem quem cobre para mandar nudes.

Desde que a política de fim de likes foi instaurada na plataforma, influenciadores, principalmente os pequenos, têm quebrado a cabeça para achar um jeito de engajar o público e ganhar uma grana. O recurso da lista de melhores amigos surgiu em 2018 após vários debates em torno da privacidade e dos efeitos das redes sociais na saúde mental dos jovens. O objetivo não era exatamente gerar renda para ninguém além da própria plataforma, mas parece que o jogo virou no meio do caminho.

A ideia pode parecer estranha, mas, para Bia Granja, fundadora do YouPix, um dos principais eventos de criadores de conteúdo online, se há quem "venda intimidade" no stories, é porque há quem compre. "Tem muito influenciador usando o recurso para dar aos seus assinantes a oportunidade de se sentirem mais próximos do que já são. Isso é novidade? Nem um pouco. O que era a revista Caras (e ainda é) se não uma forma de monetizar a intimidade das celebridades? Ninguém 'enaltecia' a Caras, mas todo mundo lia", afirma.

O argumento pode parecer lógico, mas na internet ninguém perdoa. Virgínia virou meme no Twitter na última quinta-feira (19) e muita gente tirou sarro da iniciativa de monetizar a lista de melhores amigos. Virgínia comemorou nos stories o fato de ter virado assunto na outra rede social por causa dos R$ 14,90, mas não se abalou com as críticas. "Alguns comentários [do Twitter] eu ri bastante, dos memes, e outros comentários maldosos eu ignorei, se não é um comentário construtivo eu apenas ignoro", diz.

Para Bia Granja, usar a ferramenta do Instagram como modelo de negócio para oferecer conteúdo está "certíssimo". "Se manter atualizado, relevante, investindo em criação, pauta, equipe, conhecimento, distribuição. É um trampo. É um baita investimento", afirma. "Acho justo que formas alternativas de monetização surjam para ajudar", opina.

Mas será que tudo gira em torno do dinheiro, no fim? E os amigos de verdade? Segundo Virgínia, continuarão sendo seus melhores amigos: "Atualmente, tenho pouquíssimas pessoas nos meus melhores amigos do Instagram, minhas primas, minha mãe, minhas melhores amigas mesmo, meu cunhado, meu namorado. Eles vão continuar lá e vão acompanhar todas as novidades que estão por vir." O resto dos "melhores amigos" vai ter de pagar para desfrutar da atenção da influencer.