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A bolsonarista fiel que vê presidente como enviado de Deus e herói do país

Olímpia de Barros Correia, no bairro de Benedito Bentes, durante passagem de Jair Bolsonaro por Maceió - Carlos Madeiro/UOL
Olímpia de Barros Correia, no bairro de Benedito Bentes, durante passagem de Jair Bolsonaro por Maceió
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o TAB, de Maceió

15/05/2021 04h01

Olímpia de Barros Correia, 75, acordou feliz na última quinta-feira (13). Pegou carona com três amigas e saiu da Jatiúca, bairro nobre da orla de Maceió, para estar em Benedito Bentes, onde veria pela primeira vez o presidente Jair Bolsonaro.

O presidente participou de dois atos na capital alagoana naquele dia, e Olímpia foi uma das primeiras a chegar no primeiro compromisso da agenda: às 7h já estava na entrada do palanque montado no bairro para o ato de entrega de chaves a moradores de um conjunto habitacional. O evento, porém, estava marcado para as 10h.

Nem mesmo o irmão internado e intubado em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com covid-19 a impediu de ir ao evento ver aquele que, segundo ela, foi enviado por Deus para salvar o país. "Tenho medo, sim [de adoecer], mas Deus está acima de tudo. E eu estou aqui protegida [aponta para a máscara] também", diz ela, que já está vacinada com as duas doses da CoronaVac.

Olímpia, que produzia máscaras à mão e as anunciava nas suas redes no início da pandemia, diz que segue as recomendações sanitárias, ao contrário do presidente (que promoveu aglomeração e participou das cerimônias em Alagoas sem máscara). Usa máscara sempre que sai às ruas (no dia, estava com uma de tecido branco, estampada com "Bolsonaro 2022") e assistiu à cerimônia quase isolada, na última cadeira da seção destinada ao público convidado.

Olímpia não vê problema no descompasso entre as ações de Bolsonaro e as suas. Ela afirma que o presidente agiu bem durante a pandemia, assim como está indo bem agora. "Somos um dos países que mais vacinam no mundo."

Olímpia de Barros Correia, no bairro de Benedito Mendes, durante passagem de Jair Bolsonaro por Maceió - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Transmissão ao vivo

Olímpia usou o celular e transmitiu toda a cerimônia. Ela só tirava o foco da câmera do palco quando um coro da plateia interrompia algum discurso. Quando o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), afirmou que seria aberta a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na Câmara para debater o voto impresso, quando ecoou em altíssimo grito de "voto impresso!".

Pai do governador de Alagoas, o senador Renan Calheiros, que naquela manhã de quinta ouvia o executivo da Pfizer, Carlos Murillo, foi bastante ofendido durante o evento.

A cada novo grito, Olímpia vibrava e filmava o público, que chamava Calheiros de "vagabundo" e Bolsonaro de "mito", além de gritar "Lula ladrão", "Globolixo" etc.

"Como que desliga aqui o ao vivo? Fiquei tão emocionada que não estou sabendo" — Olímpia se atrapalha e pede ajuda à reportagem de TAB. Após finalizar a transmissão, ela garante que não é uma bolsonarista qualquer: acompanha a carreira do político desde que ele era deputado.

"Sempre o admirei, porque acompanhava qual era o comportamento dos políticos alagoanos. Ele sempre foi o mesmo, nunca mudou posição: sempre defendeu a família, Deus, a pátria e a família", diz.

Olímpia afirma que sua própria família também o admira. "Meus netos é que são os mais discretos, estão vivendo para estudar", diz, citando, porém, que não há divergência política em casa. "Se tiver petista na minha família eu meto o cacete", brinca.

Olímpia de Barros Correia, voltando para casa, depois de participar do lançamento de uma entrega de casas populares em Maceió, com a presença de Jair Bolsonaro - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Olímpia de Barros Correia caminha em direção aos carros, na saída do evento com Bolsonaro
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

'Amar a Deus já basta'

Olímpia, que é católica, acredita numa missão messiânica do presidente, um "envio dos céus" do presidente para salvar o país para colocar a família em primeiro lugar no rol de prioridades dos brasileiros, e reavivar o sentimento dos brasileiros para com o país. "Nós voltamos a ter orgulho de ser patriota, de temer a Deus. Isso é maravilhoso."

Bolsonaro não rouba e nem deixa roubar, segundo a artesã aposentada. Nada do que denunciam contra Bolsonaro é verdade. Em sua visão, os ataques seriam uma luta para retornar de quem "sempre tomou conta do Brasil e roubou".

Isso, diz, é um exemplo de ser humano. "Eu mostro sempre aos meus filhos, aos meus netos, que os jovens têm de ter moralidade, honestidade e verdade. E Bolsonaro é isso: é verdadeiro e ama a Deus —só isso já basta [para ser admirado]."

Ao ver a conta de Instagram da bolsonarista, TAB constatou que Olímpia tentou ser vereadora de Maceió em 2020. Candidata pelo PSL (Partido Social Liberal, legenda pela qual Bolsonaro candidatou-se à presidência), acabou tendo apenas 74 votos e não foi eleita.

O alvo principal de suas postagens é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma das imagens publicadas, ela coloca as fotos de Bolsonaro e do ex-presidente com um rosto do petista coberto por uma imagem do diabo. "As pessoas que são contra ele, que são contra os bolsonaristas, são contra o Brasil, contra a família. É para isso que as pessoas têm de acordar", afirma.

Em atos passados de apoio a Bolsonaro, ela aparece em fotos na porta do quartel do Exército em Maceió, onde apoiadores mais radicais costumam pedir intervenção militar.

Olímpia de Barros Correia, voltando para casa, depois de participar do lançamento de uma entrega de casas populares em Maceió, com a presença de Jair Bolsonaro - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Sentimento bolsonarista

No núcleo bolsonarista que foi ao encontro do presidente em Maceió, as convicções são parecidas com as de Olímpia. Diferentemente dela, muitos não usavam máscaras e se aglomeravam para tirar foto com Bolsonaro. A maior parte não gosta de falar com a imprensa (ou, se falam, preferem não dar nomes).

TAB ouviu alguns deles. "Como é que pode um brasileiro não ter orgulho de um homem desses? Esse homem é do povo, nunca vi alguém tão simples. O outro presidente [em referência a Lula] vivia em hotel dez estrelas, comia caviar", diz uma bolsonarista, ao deixar o local do evento.

"Sou médica aposentada, tenho 73 anos, apoio o presidente e o tratamento precoce [para covid-19] e não abro mão por nada", diz outra apoiadora, que garante que deixou o evento em Maceió feliz. "Pude gritar que Renan é ladrão, que Lula é ladrão. É tudo safado mesmo", afirma.

São muitas as narrativas que tomam conta do ambiente bolsonarista. Uma delas, inclusive, justifica os ataques do presidenciável Ciro Gomes (PDT). "Ele queria continuar com o esquema de carros-pipa que mantinha lá no Ceará. Ficaram todos com raiva porque faziam a vida com a miséria dos pobres. Graças a Deus sou aposentada, tenho marido que trabalha, não preciso de nada do governo."

Ao fim, uma única fã de Bolsonaro confidencia algo improvável, falado baixinho: Verônica dos Santos, 55, gosta de Bolsonaro e de Lula. Ela não revela voto em uma eventual disputa entre os dois no segundo turno, em 2022. "Esse voto será um segredo", conta, aos risos.