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Da selfie à realidade virtual, como os museus estão se adaptando ao público

Pessoas tiram foto da obra "Abaporu", de Tarsila do Amaral, no Masp - Danilo Verpa/Folhapress
Pessoas tiram foto da obra "Abaporu", de Tarsila do Amaral, no Masp Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Do TAB

20/06/2021 04h01

Em um dia normal (fora da pandemia), 30 mil pessoas passam pela galeria onde fica a Mona Lisa no Museu do Louvre, em Paris. Aproximadamente 80% dos visitantes, segundo a própria instituição, estão lá só por causa dela. O quadro virou uma febre, atraindo desde os apaixonados por arte até aqueles que querem apenas garantir uma selfie ao lado da obra de Da Vinci.

Aqui no Brasil, a exposição de Tarsila do Amaral no Masp, em 2019, causou comoção semelhante: as filas de seis horas de espera eram para registrar obras como "Abaporu" em seus celulares. O comportamento vem, é claro, rodeado de críticas daqueles que veem na atitude uma falta de apreciação da arte.

Mas será que fotografar um quadro e postar no Instagram é sempre problemático? Atualmente, há museus pensando em primeiro lugar na experiência instagramável de quem os frequenta — como é o caso do Museum of Ice Cream, em Nova York e Singapura.

O antropólogo Michel Alcoforado traz o conceito de vida ativa, cunhado pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, para analisar esse fenômeno. A ideia é que estamos passando de um modo de vida contemplativo a um que preza pela produtividade e ação. "Na vida ativa, a gente é obrigado a participar de tudo quanto é processo que cerca a gente sem deixar nenhum espaço para essa contemplação. Traz um pouco de um dilema aí para o museu, porque o museu teoricamente é um lugar de contemplar. Numa era onde todo mundo está muito preocupado em ser ativo, talvez o jogo seja fazer selfie", avalia Alcoforado no episódio de CAOScast veiculado esta semana em TAB (ouça a partir de 25:12).

No podcast, a trupe traz uma pesquisa da Consumoteca que mostra o quanto esses espaços culturais ainda são vistos como antiquados aqui no Brasil e pouco dialogam com a sociedade. "Para 50% dos nossos entrevistados, o museu é um lugar previsível, e para 52% o museu é um lugar monótono. Porque acho que muito se associa a isso, de achar que tem um protocolo, que tem que seguir um caminho, que tem que olhar tantos segundos um quadro, fazer uma cara de que entendeu, botar a mãozinha no queixo e fazer um comentário rebuscado sobre aquilo", diz a líder de pesquisa da Consumoteca, Marina Roale (a partir de 10:37).

Aos poucos, peças interativas, realidade virtual e outras tecnologias vão ajudando a apagar aquela linha vermelha no chão e permitir que o público faça parte do que está sendo exposto. "Essa é uma tendência que a gente chama aqui no grupo de 'eu participante'. É justamente esse desejo de fazer mais do que apenas contemplar o que o museu está expondo. A gente está observando o sucesso de exposições que propiciam exatamente essa interação: que tem um caráter instagramável, que eu possa dialogar de alguma forma com as obras", afirma o pesquisador Tiago Faria (a partir de 25:57).

Seja você do time dos que saem tirando selfie de tudo quanto é quadro, seja daqueles que preferem cruzar os braços e só observar as obras com atenção, tudo é válido, segundo os caóticos, desde que você saia dali transformado.

Para saber mais sobre como o brasileiro vê os museus e de que maneira as primeiras experiências marcam nossa relação com a cultura, não perca o episódio completo do CAOScast.