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Ponto turístico imediato, Jurassic Park Burger vende mais sonhos que comida

Os irmãos Souza, na ordem: Michele (21), Victor (23), João Pedro (2) e Felipe (10), no Jurassic Park Burger, em São Paulo - Felipe Pereira/UOL
Os irmãos Souza, na ordem: Michele (21), Victor (23), João Pedro (2) e Felipe (10), no Jurassic Park Burger, em São Paulo Imagem: Felipe Pereira/UOL

Felipe Pereira

Do TAB, em São Paulo

11/10/2021 04h01

Paralela a avenida de São Paulo que abriga prédios de potências como Itaú, Bradesco, Santander e Safra, existe uma rua que começa com um botecão de gente bebendo em pé, ao redor de um balde de cerveja. A via termina num bar/balada em que uma banda de pagode toca um Só Pra Contrariar afinado. Mas o estabelecimento de rua que junta gente a valer e forma fila de carros tem seis lâmpadas imitando tochas. Elas estão fixadas num portal e, acima dele, há uma placa onde se lê "Jurassic Park".

A música-tema do filme reforça o clima de restaurante de parque da Disney. Trata-se de uma hamburgueria recém-inaugurada em que a atração principal não é a comida. Os clientes tiram mais fotos do que mastigam. Todos em volta dão uma espiada no trânsito e, quando não vem carro, vão até o meio da rua para fazer o portal caber numa foto.

No salão, as mesas mais disputadas são as que ficam embaixo de um Tyrannosaurus rex. Ele sai de uma parede de plantas como uma fera que surge da floresta. Está em pé sobre uma caminhonete tombada. Com a bocarra aberta, o bichão mostra os dentes e ostenta o olhar de quem vai te almoçar. É esta a experiência que os clientes procuraram.

Comandante da cozinha e um dos sócios do restaurante, Fábio Moon sabe que os pratos que prepara não são o principal atrativo. "A gente não vende hambúrguer, a gente não vende comida, a gente vende sonho. O cara esquece tudo por duas horas", declara.

A fórmula da hamburqueria tem feito sucesso. Só é possível comer no local com reserva e são 450 vagas por noite. A procura nos primeiros dias (o restaurante inaugurou em 30 de setembro) foi igual a show de popstar. Até o final do ano não há mais datas. A insistência de quem continuou tentando fez o site cair. Um bom caminho para quem tem pretensões altas.

"Queremos ser uma atração turística", revela Fábio.

Isis Aguiar e a 'selfie da selfie' dentro do Jurassic Park Burger Restaurant, no bairro paulistano de Vila Nova Conceição - Felipe Pereira/UOL - Felipe Pereira/UOL
Isis Aguiar e a 'selfie da selfie' dentro do Jurassic Park Burger Restaurant
Imagem: Felipe Pereira/UOL

Bebê hipnotizada pelos dinos

Quando Isis Aguiar era um bebê, o pai queria colocar a pequena em frente à televisão para assistirem juntos ao filme "Parque dos Dinossauros". A mãe teve medo de ela ficar impressionada com humanos sendo devorados, mas a menina amou. O filme virou a "Galinha Pintadinha" daquela casa. Fazia Isis ficar sentada por duas horas sem chorar, reclamar de fome ou quebrar alguma coisa.

Não quer dizer que ela não tivesse determinados pensamentos. A garota, hoje aos 27 anos, diz que seu personagem preferido sempre foi o tiranossauro rex. Motivo: ele corria pela floresta derrubando tudo, enquanto perseguia a caça.

Ao recriar esse imaginário afetivo, o restaurante ganhou pontos com Isis. "Quem é fã pega referência em tudo. No banheiro, na parede, olha na tela e sabe que é do filme."

Ainda que os clientes não visitem o local pela comida, os detalhes também estão à mesa. A sobremesa é um éclair (bomba) chamada "jurassic egg". Vem em cima de palhas que imitam um ninho e tem formato de um ovo de dinossauro.

Sócio do restaurante, Fábio Moon diz que o local tem licenciamento do estúdio Universal. Destaca, na conversa, o nível de detalhamento necessário para ter esse selo. A imagem do tiranossauro pisando no carro, que recria uma cena famosa do filme, tem uma Ford Explorer embaixo da pata do animal. Ao adquirir o carro, o restaurante mostrou a foto do veículo para o estúdio. Recebeu um alerta, porque tudo no restaurante precisa do aval do estúdio norte-americano. O carro era um modelo 1993 e o que aparece no filme é de 1992. Nova busca precisou ser feita nos EUA para reproduzir a cena do filme.

Toda a recriação do cenário ajuda a dar cara de restaurante de parque temático norte-americano. Outro fator que joga pela causa é a lojinha com produtos oficiais. Isis engrossou a coleção de artigos de Parque dos Dinossauros comprando uma caneca, uma camiseta e todas as meias disponíveis.

Hambúrguer Jurassic Park, no restaurante temático Jurassic Park, inaugurado na Vila Nova Conceição, em São Paulo - Felipe Pereira/UOL - Felipe Pereira/UOL
Hambúrguer Jurassic Park
Imagem: Felipe Pereira/UOL

Bebê vestido de dino

Coisa de 25 anos atrás, antes da era da internet e do celular, a Parmalat fez uma propaganda com crianças vestidas de filhotes de animais. O Brasil inteiro repetia "ai, que fofo!". João Pedro experimentou essa sensação quinta-feira (7) à noite. O menino de dois anos e oito meses apareceu no restaurante vestido de dinossauro.

Mais velho dos irmãos, o estudante universitário Victor Regis de Souza, 23, contou que o dia de ir ao estabelecimento teve ritual de noivo por parte de João Pedro. O menino separou a roupa e ficou elétrico, esperando a hora de se vestir e partir para o tão aguardado compromisso.

O garoto é tão fascinado pelo assunto que sabe distinguir um dinossauro do outro e descrever características como altura, peso e hábitos de caça de um tiranossauro e um velociraptor. João Pedro faz parceria no tema com Felipe, o irmão de 10 anos.

Ele tem autismo e verdadeiro encantamento com dinossauro, jacaré e tubarão. Felipe foi com a camiseta do filme e uma garra. Também fez Victor se vestir de blazer para se parecer com Malcolm, um matemático especialista em Teoria do Caos que é personagem do "Parque dos Dinossauros" do cinema.

Camila Ali Chair e Rafael Oliveira, ao lado de uma réplica de dilofossauro, no Jurassic Park Burger Restaurant, em São Paulo - Felipe Pereira/UOL - Felipe Pereira/UOL
Camila Ali Chair e Rafael Oliveira, ao lado de uma réplica de dilofossauro
Imagem: Felipe Pereira/UOL

Camila e o Instagram-homenagem

Existe um bando de crianças que cresceu correndo atrás de uma bola e virou adulto apaixonado por futebol. Camila Alli Chair, 32, passou pelo mesmo processo com os dinossauros. Na adolescência, ela repetia que queria ter nascido dinossauro.

Como não aconteceu, virou Ilustradora e animadora. Camila foi com um amigo ao restaurante e eles separaram as melhores indumentárias ao sair de casa — camiseta do "Parque dos Dinossauros", se estivesse quente, e moletom para o caso de frio.

Como muitos clientes, Camila diz que não foi pela comida. Mas elogiou o hambúrguer e a apresentação dos pratos. A avaliação enche Fábio Moon de satisfação. O sócio do restaurante tem consciência de que os fãs do filme talvez não garantam casa cheia quando o frisson passar.

Ele relata que hoje o tíquete médio é de R$ 55. Fábio apresenta seus diferenciais para cobrar mais que uma rede de fast food. A carne, o queijo, os molhos, o bacon e o picles são feitos no local para garantir qualidade. "Somos o fast food mais artesanal possível."

Também há cuidado no trato com o público. O restaurante é frequentado por pessoas que conhecem esse universo e quem lida com os fregueses são pessoas que trabalharam em eventos como a CCXP, convenção da indústria pop sobre séries, filmes, quadrinhos e games.

Fábio conta que já tem inovações no cardápio prontas para serem lançadas e assim pretende melhorar a experiência dos clientes. A intenção é servir comida boa num espaço com preciosidades do filme — coisas como um capacete original autografado.

Outro item da coleção é uma raridade: a maquete do tiranossauro rex usada pelos estúdios para fazer o animal que apareceu no filme. Para quem é apaixonado por "Jurassic Park", é como ver uma maquete de Moisés, a escultura de Michelangelo tão realista que só faltava falar.