'Cleanfluencers' viralizam e faturam alto: 'A faxina brasileira é única'
Todas as noites antes de dormir, o analista financeiro baiano Ronaldo Linhares, 26, desliga dos cifrões e mergulha no mundo da limpeza: passa horas assistindo os mais variados vídeos de faxina e organização, momento que ele considera "terapia". Junto a milhões de usuários, Ronaldo faz parte do público magnetizado pelos "cleanfluencers", os influenciadores de limpeza. Nesse nicho, reina a faxina brasileira.
Segundo levantamento do portal especializado Cleanipedia, os influencers brasileiros têm mais visualizações e podem ganham até R$ 43,6 mil a mais por postagem no YouTube do que os influenciadores da área americanos.
No Instagram, Guilherme Gomes lidera o ranking, faturando cerca de R$ 28,3 mil por post, de acordo com o estudo. Os cálculos foram feitos com a média de ganhos por seguidor e métricas das ferramentas Hopper HQ (para Instagram e TikTok) e Insider Intelligence (YouTube).
Nem todo mundo que assiste os vídeos de limpeza está exatamente atrás de dicas para desengordurar fogão ou desentupir ralo. Muitas vezes, é só pela satisfação de ver uma casa limpa. "Esse tipo de conteúdo é quase hipnótico", afirma Ludmila Lupinacci, professora de mídia e estudos culturais da Universidade de Sussex. "Os conteúdos conseguem provocar certo prazer sensorial, seja devido à repetição, seja devido aos sons, ou mesmo à expectativa de ver o 'antes e depois'", acrescenta.
'Limpei, eae?'
O cleanfluencer carioca Luiz Marques, 23, fatura até R$ 10,4 mil por post no Instagram. @luizmarquex começou fazendo vídeos com montagens de lanches X-tudo, em 2020. Certa vez, em 2022, gravou a limpeza da chapa. "Fiz o vídeo num take só, falando um monte de doideira, e o vídeo pegou 12 milhões de visualizações", lembra, aos risos. Foi assim que nasceu seu bordão: "Limpei, eae?"
De olho no engajamento crescente, ele passou a produzir mais vídeos de limpeza — o da frigideira da tia, por exemplo, rendeu 5 milhões de views. Depois, deu um salto da cozinha de casa e foi limpar a cozinha, o banheiro e a sala do "solteiro romântico" (citado assim pelo influencer para não ser identificado).
"O crescimento foi estrondoso. Já me mudei, ajudo minha família [financeiramente] e tenho muitos contratos de publicidade para este ano", conta. Luiz diz que não pretende sair do ramo. "Meus seguidores sempre falam: 'vejo seus vídeos pra me animar', 'vejo seus vídeos e me animei pra organizar. Então, esse é meu propósito agora."
De fato, diz Ludmilla Lupinacci, vídeos assim inspiram e têm um quê terapêutico, relacionado ao autocuidado: "[É] a ideia de que somos responsáveis pelo nosso próprio conforto. E que cuidando da casa estamos também ativamente trabalhando para garantir nosso bem-estar".
Limpeza à brasileira
Trabalhando como babá nos EUA, a brasileira Gabriela Carvalho, 26, cuidava de três crianças de segunda a sexta-feira.
Dentre as tarefas domésticas diversas, a menos esperada por ela era a de dobrar as roupas dos pequenos, que não eram poucas. "Foi aí que comecei a ver vídeos de limpeza e organização. Aprender a dobrar e a guardar corretamente fez toda a diferença. Tudo o que vejo nesses vídeos utilizo no meu dia a dia", diz.
A ex-babá é, nas suas palavras, "maluca por limpeza". Para ela, uma casa bagunçada é uma mente bagunçada. "Eu me sinto mal, a mente não flui", relata Gabriela, que se tornou fã de Luiz, pelo amparo psicológico que dá aos seguidores. "Nem sabia que existiam influencers de limpeza americanos ou de outros países. Sempre achei que isso fosse arte do Brasil", comenta.
O TikTok é a única plataforma em que os cleanfluencers americanos superam os brasileiros por postagem — lá, a faxineira texana Vanessa Amaro é a rainha da limpeza ("the queen of cleaning"), com mais de 5,5 milhões de seguidores e cerca de R$ 20,7 mil por post.
Desde 2020 nos EUA, o brasileiro José Sousa, 27, diz que aprendeu a cuidar da própria casa e se tornou ajudante de limpeza graças a Vanessa. "Eu não tinha ideia de quais produtos utilizar para a limpeza do meu apartamento. Ia ao mercado e ficava perdido com o mundo de opções", lembra. Embora tenha aprendido "tudo" com a tiktoker, pondera: "Morando fora a gente percebe que somos um povo limpo. A faxina brasileira é única".
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