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Cinco anos depois, livro “15:30”
reúne imagens das marcas
da tragédia em Mariana (MG) 

Cheguei a Mariana no dia seguinte ao rompimento da Barragem de Fundão. O primeiro sentimento foi de estar completamente perdida em meio ao caos. Queria encontrar uma forma de mostrar o que estava acontecendo através da fotografia, mas me vi diante de uma situação que me paralisou

O relato é da mineira Isis Medeiros, fotógrafa que acompanhou de perto os rastros do maior desastre ambiental do Brasil, em 2015

Essa experiência agora está no livro “15:30”, que reúne imagens, relatos e denúncias nesses cinco anos.

15h30 é o horário exato que foi anunciada a ruptura da barragem naquele 5 de novembro de 2015

Desde aquele dia, ela segue o percurso dos rejeitos que soterrou comunidades, histórias e vidas.

“Eu ouvia e ainda ouço as pessoas dizerem que a vida delas parou naquele momento. Foi uma ruptura. Era importante cravar esse horário", diz a fotógrafa.

“Ali a vida continuou. Apesar da tragédia, e diferente de outros lugares onde as pessoas tiveram de ser evacuadas, em Barra Longa elas convivem com rejeito até hoje. Aquilo secou, virou pó.”

Em Barra Longa, o rejeito atravessou o centro até chegar a Rio do Carmo. Mônica, bordadeira e artesã, limpava a casa quando Isis chegou. 

Sala de aula na comunidade
de Paracatu de Baixo

“Este é o segundo andar do prédio. Quando o rejeito desceu, foi possível acessar. Havia frases de protesto por toda a escola, junto com as lições das crianças antes da tragédia: "O futuro que foi comprometido'", observa

As crianças brincam entre rejeitos e nas ruínas de suas comunidades. Um deles disse que queria plantar feijão, porque a terra estava muito “feia”

Uma delas brincava na margem do Rio Carmo.

“Esse solo não é terra. Infelizmente essa criança não vai ver crescer nada”, observa a fotógrafa

Olívia tinha sete anos quando tudo aconteceu.

Quatro anos depois, ela voltou aos escombros da casa onde vivia. A árvore seca ao fundo era uma mangueira, espécie de ponto de encontro da comunidade

O envolvimento das comunidades gerou muitas marchas para entender o impacto da tragédia e formas de reparação aos familiares dos mortos, aos atingidos e à bacia do Rio Doce.

Em uma dessas marchas, uma avó se emociona ao lembrar da neta morta. Ao fundo, uma das poucas casas que não foram destruídas pelo rio de lama

 
Dona Creuza, catadora de caranguejos em São Mateus, perdeu o trabalho com o rio poluído 

Medeiros também fez retratos.



 O protesto foi em vão.

“Essa foto representa a luta incansável das pessoas atingidas, mas também os retrocessos sofridos”, diz a fotógrafa 

Em 2016, os moradores fizeram um protesto contra a construção de um dique que alagaria parte da comunidade para conter os rejeitos em Bento Rodrigues. Aquilo apagaria parte da vida deles.

Edição
Olívia Fraga

Reportagem
Tiago Dias

Fotografia
Isis Medeiros

Publicado em 27 de novembro de 2020.

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