Enquanto uma casa que acabou de receber um bebê fica convulsionada com a chegada da criaturinha, a que acabou de ter uma perda gestacional é silenciosa: Ninguém fala sobre. Todo mundo desvia os olhos. Ninguém quer ouvir os pais que perderam o filho.
“Quando o indivíduo não passou por isso ou não viveu essa experiência, ele tem uma tentativa de julgar esta situação. Acha que, porque a mãe não conviveu com o bebê, não tem por que sofrer”, diz a psicóloga Liliana Seger. O silêncio vem, então, da falta de empatia. E, quando é quebrado, são por frases feitas - “Você é jovem, vai ter outro bebê”. “Ele agora é um anjo lá no céu” -, criando um sentimento de desmerecimento na família.
Tássia
“Depois dessa perda gestacional eu conheci um tipo de luto que, além de não ser reconhecido em nossa sociedade, é desmerecido. Cada ser humano é único. Cada filho tem sua importância independente do tempo que tenha vivido. Não podemos mensurar o amor e a importância que as pessoas têm em nossa vida. Às vezes um abraço é suficiente.”
Rafaella
“Quando a gente passa por uma perda e a gente enluta, as outras pessoas enlutam com a gente. Você conheceu e criou um vínculo com aquela pessoa que está partindo. No caso de uma perda gestacional, ninguém criou um vínculo com o bebê, só a mãe, o pai e a família. Ninguém foi ao sepultamento de Miguel, eu também não fui. Não existe este protocolo social.”
As mulheres que passam por essa situação não se sentem acolhidas nem mesmo em grupos convencionais de apoio ao luto. O casal tem medo de ser julgado, pois estão sofrendo por “apenas” um feto. Uma das mulheres presentes ao evento citado no início da reportagem explicou o "julgamento" com uma frase da escritora norte-americana Sherokee Ilse: “A sociedade mede a dor pelo tamanho do caixão”. De fato, há poucos grupos de apoio à perda gestacional e neonatal. O TAB não encontrou nenhum em São Paulo (SP). Em Campinas, há encontros mensais do SobreViver, enquanto o Rio é a casa do Do Luto à Luta.
A melhor forma de consolar uma pessoa que teve uma perda gestacional é, segundo a psicóloga Liliana Seger, falar pouco e ouvir mais. Deixá-la quebrar este silêncio, deixá-la desabafar o quanto precisar. “Acolher é ouvir, não mudar de assunto. As pessoas ficam sem graça, mudam o foco, mas isso faz a pessoa se sentir desvalorizada, desentendida”, complementa.
No lançamento do livro "Histórias de Amor na Perda Gestacional e Neonatal", elas não desperdiçavam uma oportunidade de compartilhar e, principalmente, de ouvir. Uma delas tinha perdido a filha no sétimo mês de gestação há algumas semanas. Todas a escutaram acenando o rosto afirmativamente. Elas se entendiam.
Larissa
“No geral, me sentia inadequada ao tentar falar do meu filho com amigos e familiares. Nunca me esqueço, porém, de um amigo médico que nos mandou uma caixa de bombons desejando dias melhores e mais doces para mim e meu marido. Foi a primeira pessoa que demonstrou empatia de verdade e o quanto sentia por nós.”