Quando Leandro Souza, 35, e Marcílio Santos, 34, adotaram André, o menino de oito anos tinha um sonho: conhecer o mar. No dia do garoto deixar o abrigo onde vivia rumo ao novo lar, o litoral não fazia parte do caminho, mas o casal fez um desvio até o Guarujá, costa sul de São Paulo. Era uma noite de inverno e estava um pouco frio. Para André, isso não importou muito. Assim que pisou na areia, correu e rodopiou, eufórico. “A gente achava que ele ia quebrar o pescoço de tanta felicidade”, lembra Leandro.
Mesmo em uma fase de descobertas e com comportamentos típicos da infância, André já era considerado “velho demais” para ser adotado, segundo os padrões brasileiros. A maioria dos pretendentes a adotar no país quer crianças de até três anos. Na idade do André, por exemplo, apenas 2% dos cadastrados aceitam iniciar o processo. Some a isso o fato de o garoto sofrer de um problema de saúde que demanda acompanhamento constante, além de ter um irmão, Victor - para não dissolver ainda mais o núcleo familiar, a Justiça prioriza que irmãos permaneçam juntos, sendo separados apenas em casos específicos.
“Eles eram considerados ‘inadotáveis’, vamos dizer assim”, lembra Leandro, que com o marido Marcílio também acolheu Victor, então com três anos.