Em autorretratos e obras icônicas, conheça o trabalho de 10 artistas plásticos negros brasileiros e norte-americanos
Reprodução
O mundo das galerias, salões e museus não difere do mundo real: majoritariamente masculino e branco, quase não cede espaço para talentos que emerjam das bordas. Mas as exceções existem e marcam a arte contemporânea nos EUA e no Brasil. Os artistas afrodescendentes desta seleção dialogam com seu tempo e sua herança
ARTUR TIMÓTEO DA COSTA (1882-1922)
"Pintor no ateliê" (1910)
Arte/UOL
Artur Timóteo da Costa foi um dos precursores do Modernismo no Brasil. Ingressou, junto com seu irmão, João Timóteo, no curso de desenho da Casa da Moeda. Anos depois, entrou para a Escola Nacional de Belas Artes, que o patrocinou em uma temporada de dois anos em Paris. Com o quadro "Antes d'Aleluia" (acervo do Museu de Belas Artes do Rio), levou o primeiro lugar em um concurso da instituição.
Um dos grandes artistas do início do século 20, Archibald John Motley Jr. nasceu em Nova Orleans, mas viveu boa parte da vida em Chicago. Ele retratou como poucos a vida das comunidades negras das grandes cidades norte-americanas. Seus quadros sobre a Era de Ouro do jazz e o Harlem, bairro negro de Nova York, fizeram história.
Nascida no bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo, Rosana Paulino é artista visual e professora na Escola de Comunicações e Artes da USP. Sua obra, feita de colagens, impressões e costuras (que chama de "suturas"), é dedicada a entender memória e o legado da escravidão no Brasil sobre os corpos negros. Em 2018, abriu sua maior exposição individual na Pinacoteca do Estado -- a mostra seguiu para o Rio em 2019.
Gene Young Photographer/Smithsonian American Art Museum
Lois Mailou Jones foi uma das artistas visuais mais premiadas dos EUA. Nascida em Boston, dedicou-se ao ensino das artes antes de passar temporadas na Itália e em Paris, onde seguiu trabalhando. Entre suas séries mais famosas está "Les Fetiches", que retratava máscaras africanas. Seu quadro "Legado Egípcio" (1953) foi exibido na mostra "Histórias Afro-Atlânticas", do MASP, em 2018.
Desenhos a carvão sobre tábuas de madeira marcam a produção de Whitfield Lovell, nova-iorquino do Bronx. Uma visita ao Museu do Prado, em Madri, o fez decidir ser artista plástico: "Tive uma experiência espiritual incrível. Velásquez havia se comunicado comigo através de séculos e culturas". Fotos antigas servem de inspiração para pinturas em muros e instalações. Nelas, Lovell reflete sobre o representação do negro na cultura ocidental.
Maxwell Alexandre nasceu na Rocinha, no Rio, e foi sensação na Bienal de Arte em São Paulo e na mostra "Histórias Afro-Atlânticas" do MASP. Ainda em 2018, ganhou o circuito europeu. A memória das comunidades e a relação com o berço evangélico erguem uma poética própria em suas obras. "Pardo é papel", em cartaz no Museu de Arte do Rio antes da pandemia, ganhou versão online na última quinta-feira (5).
A paulistana Renata Felinto mora no Crato (CE). Com doutorado em Arte, pesquisa a arte produzida pelos afrodescendentes e trabalha com pinturas, colagens, desenhos, fotografia e performance. Na série "Afro Retratos", brinca com cores fortes, adesivos, lantejoulas e purpurina, discutindo a espetacularização da figura da mulher negra, celebrada na música e no samba.
Artista, fotógrafa, ilustradora, plural: Mickalene Thomas é talvez a artista afro-americana mais celebrada dos últimos anos. Suas pinturas de mulheres negras em ambientes domésticos, misturando na tela strass e colagem e relendo a estética do cinema blaxploitation dos anos 1970, são reflexões sobre sexualidade, gênero e o imaginário da cultura negra nos EUA. É de sua autoria o retrato da ex-primeira dama Michelle Obama.
Descendente de portorriquenhos e haitianos, Jean-Michel Basquiat foi um dos maiores pintores do século 20. Nova-iorquino, começou grafitando prédios de Manhattan. Montou uma banda, fez participação em filmes, até que, no início dos anos 1980, exibiu algumas obras em uma exposição coletiva. Dali para frente, sua carreira nas artes foi meteórica e explosiva. Morreu precocemente, aos 27 anos.
Mineira de Campo Belo e mais tarde moradora da Casa Verde, na zona norte de São Paulo, Maria Auxiliadora da Silva era autodidata e uma artista ímpar. Chegou a vender seus quadros na Praça da República, na capital. Em 2018, o MASP dedicou uma exposição a ela. Cenas cotidianas coloridas e reproduzidas como um grande bordado, cheias de pequenos detalhes, lembram seu trabalho como bordadeira de tecelagem.