Ativismo digital

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TextoJuliana CarpanezDesignDenise Saito

O poder em suas mãos

O novo "milagre econômico" brasileiro - aquele sobre o qual conversávamos antes de a crise nos interromper - criou uma massa de consumidores que até então só via tudo pela vitrine. Há quem tenha apontado uma diminuição da desigualdade, há quem reclame que tudo não passou de uma ilusão. Mas foi justamente um símbolo do status econômico que permitiu a esses novos consumidores colocarem em prática sua cidadania: o telefone celular. Essa ferramenta popularizou de fato a internet entre a classe C, o grupo mais populoso do país, dando um megafone para pessoas até então sem voz. É o que mostra a 15ª edição do estudo F/Radar, sobre democracia e consumo, realizado em parceria entre a agência de publicidade F/Nazca S&S e o instituto de pesquisa Datafolha.

Essa mudança permitiu à classe C fazer valer o seu tamanho e colocar o foco do ativismo digital em questões próximas, como o conserto das calçadas do bairro. Só depois vêm as mais abrangentes, como reforma política e maioridade penal. Esse movimento mostra que, hoje, é tão legítimo querer mudar o mundo quanto querer mudar o seu mundo. E a explosão na quantidade e variedade de causas - aquelas que pipocam na timeline do Facebook - deu-se junto a outro boom, o da internet móvel. Hoje ela está disponível para 87 milhões dos 107 milhões de brasileiros conectados (53% do total de acessos, contra 26% há apenas dois anos, segundo a F/Radar). "É difícil identificar causa e consequência. Mas o ativismo digital aumenta proporcionalmente e paralelamente ao crescimento da internet móvel no país", afirma José Porto, diretor geral de planejamento da F/Nazca S&S. "Já tínhamos mídias de massa e agora passamos também a ter massas de mídia", completa.

O telefone celular ocupou nesse processo um papel já desempenhado pelas LAN houses, outrora porta de entrada para muitos ao universo digital. Enquanto os computadores representavam um obstáculo ao acesso pessoal (preço da máquina, da conexão, disponibilidade de cabeamento), os telefones e as redes móveis permitem navegação mais barata a qualquer momento, em qualquer lugar - até mesmo no tempo gasto para ir e voltar do trabalho. "O indivíduo da classe C passa muito mais tempo fora do que em casa, em frente ao computador. Antes não havia um contexto para ele usar a máquina, mas agora, no ônibus, vemos todos debruçados sobre o celular", compara Luli Radfahrer, professor de comunicação digital da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Nessa disputa online pela atenção, vencem as ferramentas otimizadas para internet móvel - até porque muitas operadoras oferecem planos com acesso ilimitado a essas plataformas. De 2013 a 2015, por exemplo, cresceu de 12% para 77% o acesso ao aplicativo WhatsApp no país.

Trabalho de base

Paulo Rogério Nunes, coordenador do Vojo Brasil

"O projeto atinge a base da base da pirâmide, um Brasil profundo que não conhece Wi-Fi", explica Nunes. São comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas que fazem via telefone (voz, texto e fotos) seus relatos, publicados automaticamente no vojo.com.br. A ligação é grátis e transforma esses grupos em narradores de suas histórias. Em 2013, essa ferramenta foi usada por uma quilombola para denunciar o derramamento de óleo causado por um navio no Porto de Aratu (Bahia).

O acesso a ferramentas antes restritas faz da classe C a protagonista de sua história: esse grupo social é o mais atuante entre ativistas online e presenciais: 45% e 41% dos manifestantes, respectivamente. "Eles têm um pragmatismo muito maior que as classes A e B. Preocupam-se mais com aquilo que afeta diretamente seu cotidiano. Não é o efeito estufa, mas sim a enchente no bairro. Não é a reciclagem, mas como ganhar dinheiro com a latinha de alumínio", explica Renato Meirelles, presidente do instituto de pesquisa Data Popular. "A classe C quer participar, pertencer. Isso também explica o fenômeno das selfies, tão forte entre esse grupo. Ele quer se ver, deixou de ser um cidadão invisível", analisa.

Os dados apontados pela pesquisa contradizem o preconceito de que a classe C, menos escolarizada, seria menos engajada sobre o seu entorno. "Mesmo que a educação formal seja menor entre este grupo, a internet lhes dá acesso à informação. Isso gera um poder de articulação e participação que essas pessoas antes não tinham", explica José Porto. Diante das possibilidades, os ativistas digitais optam principalmente por causas que não ganhavam destaque na mídia tradicional - a principal curadora e porta-voz dos assuntos que mereciam atenção. O internauta pode brigar pela proteção das baleias e também por questões mais práticas de seu dia a dia. "Quanto maior o nível de complexidade dos assuntos, mais distantes eles ficam. E muitos perdem a crença de que, nessa esfera, poderão causar mudanças e ver resultados concretos em suas vidas", completa.

Me dê motivos

Entrevistados dão nota para indicar principais causas. Melhoria nas calçadas leva nota máxima para 69% Ver

Melhoria nas calçadas

Redução da
maioridade penal

Reforma política

Preservação de
construções históricas

Arborização do meu bairro

Conservação e criação
de mais praças públicas

Conservação e abertura
de mais parques públicos

Reforma tributária

Permitir ocupação
por movimentos sociais

Descriminalização
do aborto

Descriminalização
da maconha

Fonte: F/Nazca S&S e Datafolha

O australiano Jeremy Heimans começou a vida de ativista em 1986, aos 8 anos, alertando os políticos de seu país sobre os problemas do Terceiro Mundo. Em 1991, organizou via fax uma campanha contra a guerra no Iraque. Em 1999 estagiou na ONU (Organização das Nações Unidas) e, desde então, vem ganhando importância em sua área de atuação. Cofundador da plataforma de petições Avaaz, ele define o movimento que hoje testemunhamos - e do qual muitas vezes participamos - de "novo poder". Segundo Heimans, trata-se da coordenação compartilhada e participação em massa para criar mudanças ou alterar os resultados esperados. Na base desse movimento, entram a transparência, a participação e a iniciativa de cada um dos membros.

Essa postura já rendeu cerca de 15 mil vitórias em 196 países só no site Change.org - atualmente, a média é de uma vitória por hora. Nessa lista tem de tudo: a jovem que conseguiu incluir jogadoras mulheres no game Fifa, a companhia aérea que deixou de transportar troféus de caça, a brasileira que impediu a cobrança de taxas extras para alunos deficientes, o casal gay que mudou a definição de casamento em um dicionário em português ("união legítima entre homem e mulher") e o aplicativo de táxi que adotou uma medida para dificultar o assédio às passageiras. Isso sem contar as muitas iniciativas que você vê - e até adere - via e-mail e redes sociais. As inimigas dirão que é ativismo de sofá. Mas que funciona, funciona.

Quem tem acesso à internet

A cada 100 brasileiros...

O poder do celular

Tempo para atingir 1 bilhão de usuários (em anos, no mundo)

Fonte: União Internacional de Telecomunicações, agência da ONU

"Transição" define este momento, segundo o especialista Augusto de Franco, criador da Escola de Redes. Ele explicou que, com sociedades cada vez mais conectadas, o padrão de conexão ficou menos centralizado. A consequência é um nível de interatividade jamais visto e também a redução nos graus de separação entre as pessoas. Esse formato viabiliza mobilizações sem convocações centralizadas, como as realizadas em diversas partes do mundo desde o início do século. As manifestações de junho de 2013 no Brasil, por exemplo, não tiveram um líder ou entidade hierárquica. O movimento baseou-se em processos P2P (ponto a ponto), originados por um alto grau de conectividade e disponibilidade de mídias interativas em tempo real. "O telefone celular tem um grande papel, mesmo quando não havia conexão móvel. A convocação para o março de 2004 na Espanha [manifestação após atentado em Madri] espalhou-se basicamente por SMS", lembra Franco.

Essas mensagens de texto também foram usadas pela blogueira cubana Yoani Sánchez, do blog oposicionista Generación Y, para espalhar sua mensagem ao mundo. Sem acesso liberado à internet, ela aderiu aos torpedos para fazer postagens "às cegas" no Twitter: só enviava, sem visualizar ou interagir com outros internautas. A cubana criou seu blog em 2007, no que ela chama de um "exercício de covardia": dizer naquele espaço virtual o que não podia falar sendo cidadã de um país comunista. Ela queria ser ouvida e encontrou na internet uma forma de fazer isso. Situação parecida com aqueles que, até pouco tempo atrás, não tinham meios de veicular sua mensagem - com a diferença de não estarem necessariamente em Cuba, mas sim às margens de qualquer sociedade.

Ativistas século 21

Da carroça nas ruas à iluminação na praça, ativistas contam como se organizam para mudar o seu entorno

Em média, 60% dos acessos ao Change.org vêm de telefones celulares. Grande parte desses usuários toma conhecimento das causas via redes sociais, uma prova de que as manifestações têm de estar onde o povo está. Para Lucas Pretti, diretor da organização no Brasil, há uma diferença clara na abrangência dos pedidos (uma rápida pesquisa no site mostra que eles vão do impeachment de Dilma Rousseff ao estudante que pleiteia letras maiores na prova do Enem). No entanto, todos buscam algum tipo de transformação: "Se 40 passageiros passarem a usar um trajeto de ônibus que antes não existia, o mundo deles mudou. O impacto pode ser em uma escala local ou global", afirma.

Para que as manifestações tragam mudanças, Pretti destaca a importância de se fazer pedidos concretos para as pessoas certas. Não adianta, por exemplo, mobilizar a internet pedindo que todos os políticos corruptos sejam presos (spoiler: isso não vai acontecer). Nem pedir para a presidente mais linhas de ônibus em seu bairro, considerando que ela não cuida disso. Mas adiantou, sim, entregar à Anvisa um abaixo-assinado pedindo a liberação de um remédio até então proibido, que reduz e ameniza crises de epilepsia - isso aconteceu com o enfermeiro Valdir Francisco Vaz, que precisava da medicação para o filho, Lorenzo. "Relatando sua história, ele conseguiu um benefício para muitas outras pessoas que enfrentam o mesmo problema", analisa o diretor da Change.org no Brasil.

Aula de resistência

Rafael Rezende, coordenador da rede Meu Rio

A Escola Municipal Friedenreich, no Rio, quase foi demolida antes da Copa. Motivo: dar espaço a um estacionamento no Maracanã. Junto à rede Meu Rio, pais, professores e alunos criaram abaixo assinado, telefonaram para dirigentes, participaram de audiências. Nas férias de 2012, uma webcam transmitiu imagens da escola em tempo real. Em caso de alerta, Rezende acionaria via SMS toda a rede, que iria ao local. Não precisou. A pressão funcionou, e hoje a escola é tombada.

Para Rosemary Segurado, cientista política e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), o indicador de sucesso no ativismo não se resume a atingir o objetivo final - isso muda, é claro, de acordo com o que for pleiteado. Ela cita como exemplo o movimento das Diretas Já, em 1984, que defendia o direito de o povo escolher o presidente. "A reivindicação não foi atendida naquele momento, mas não conheço ninguém que considere aquele movimento derrotado. Foi extremamente vitorioso, porque conseguiu rearticular forças políticas importantes, proporcionou o desenvolvimento de partidos e movimentos sociais", compara. A derrota pode ser uma análise simplista, reducionista, considerando outros tipos de ganhos. "Esses processos são importantes para a construção da cidadania", completa.

A especialista chama atenção para outro ponto importante das manifestações, desta vez negativo. Num momento em que a democracia vive uma crise de representatividade em todo o mundo (#nãomerepresenta), Rosemary alerta para o surgimento de grupos com discurso fácil, sem consistência, que se apresentam como alternativa às lideranças tradicionais. "Aqueles que não conhecem a dinâmica da política podem facilmente cair no canto da sereia. Na política não existe vácuo e alguém sempre ocupará o espaço vazio", analisa. Na esteira da Primavera Árabe, por exemplo, muitos tunisianos acabaram sendo recrutados pelos terroristas do Estado Islâmico para lutar na Síria e no Iraque.

Quem são eles

Na rua, na internet ou em ambos: conheça os perfis mais comuns entre quem quer fazer a diferença

Ativista virtual: mulher, menos de 24 anos, classe C e ensino médio

"Enfrentamos o racismo e o machismo. A mulher negra é sempre excluída. Nas novelas, quando há uma negra ou é uma gostosona ou é uma barraqueira." Agnis de Oliveira, 19, não arma barraco: sua militância é virtual. Diz que está em fase de aprendizado e quer participar de protestos. A mãe e a irmã mais velha são suas inspirações para lutar pela igualdade de oportunidades. "O melhor ativismo é saber quem é você e o que fazer", define. Ela participa de um coletivo que divulga a obra de mulheres negras na cultura brasileira.

Ativista presencial e virtual: homem, menos de 24 anos, classe AB e ensino superior

"Na rua ou na internet, o que importa é mover as pessoas. As redes sociais são só plataformas, mas ajudam a catalisar o movimento." Pedro Zanotto, 21, é ativista de grupos contra a LGBTfobia há um ano. A militância tem um lado político: "antes das leis, temos de conquistar o respeito dentro da sociedade". Mas tem também um lado psicológico: "Compartilhamos experiências e aumentamos a sensação de pertencimento". O lema de seu grupo é "o fervo também é luta", defendendo que as festas são uma forma de se manifestar.

Ativista presencial: homem, mais de 45 anos, classe C e ensino médio

"Vou para rua para provocar impacto e ter resultado." Nestor Quintos, 76, está acampado em plena praça da Sé, centro de São Paulo. Há 30 anos milita em movimentos por moradia popular. Sua casa no Jardim São Luiz, zona Sul, foi construída há 19 anos por mutirão, como a de seus vizinhos. Mesmo com seu cantinho, luta por aqueles que não têm. "Penso nos meus iguais. Não quero um dia ocioso em minha vida." Já enfrentou gás de pimenta da polícia e perdeu a conta das vezes que foi para Brasília protestar. "Só este ano foram três viagens."

Atualmente, o Estado Islâmico é considerado um exemplo do uso eficaz do ativismo. O marechal Robert Hannigan, diretor da GCHQ, o órgão de segurança e inteligência do governo britânico, escreveu recentemente um artigo no qual classifica o grupo terrorista como o primeiro composto por nativos digitais. Daí tanta familiaridade e noção em como fazer as coisas: aderiram a plataformas como Twitter, Facebook e WhatsApp, onde falam a linguagem dos outros usuários. Seus vídeos online com ataques, tiros e explosões têm o visual típico de games. Eles usam hashtags populares - ligadas à Copa do Mundo ou à epidemia de ebola, por exemplo - para espalhar sua mensagem entre diferentes públicos. Já as imagens grotescas de decapitação param bem na hora do ato: eles perceberam que muita violência pode ser contraprodutiva e bani-los das redes sociais.

"Enquanto a Al-Qaeda e seus associados viam a internet como um lugar para disseminar anonimamente material ou se encontrar em 'espaços obscuros', o Estado Islâmico abraçou a web como um canal para se promover, intimidar pessoas e tornar os novos recrutas mais radicais", escreveu Hannigan. Em discurso no Pentágono sobre os avanços desse grupo extremista, o presidente Barack Obama afirmou que os EUA continuarão a ajudar seus parceiros a conter a propaganda de ódio do EI: "principalmente online", destacou.

Sob controle

Valdir Francisco Vaz, pai de Lorenzo

Uma amiga da família criou a petição pedindo a liberação do CBD (canabidiol) no Brasil. Antes proibido (e importado ilegalmente), o medicamento derivado da maconha havia se mostrado eficaz para diminuir e amenizar as crises epiléticas de Lorenzo, 10. As mais de 77 mil assinaturas foram entregues à Anvisa, que em 2015 classificou a substância como controlada. "Senti na pele o que uma petição pode fazer: nossa vida melhorou muito. Hoje assino várias, porque sei o impacto que podem criar."

Nem precisa chegar ao Estado Islâmico para encontrar exemplos em que o ativismo não causa transformações positivas. A edição do TAB sobre humilhação na internet mostra diversos casos em que internautas se mobilizaram - muitas vezes sob o pretexto de um bom motivo - e acabaram destruindo a vida de outras pessoas. Em setembro, na zona sul do Rio, um grupo de jovens se organizou para fazer "blitze" em ônibus que vinham do subúrbio: o objetivo era impedir que suspeitos de arrastões chegassem até as praias. Os "fiscais", que combinavam a ação via WhatsApp, visavam "moleques de chinelo, com cara de quem não tem R$ 1 no bolso". Alguns foram tirados dos ônibus, recebendo socos e chutes daqueles que colocavam em prática uma versão deplorável do faça você mesmo.

Por causa de quê?

Já participou de alguma petição? Veja três propostas do site Changes.org para você avaliar se vale apoiar

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Educação para garotas
Doulas em hospitais do Rio
Mapas de ciclovias em SP

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Educação para garotas

O projeto global foi criado por Malala Yousafzai, vencedora do prêmio Nobel da Paz aos 17 anos. Ele propõe o financiamento de 12 anos de educação para meninas. Quando a petição atingir a meta de 1 milhão de assinaturas, será enviada à Aliança Mundial pela Educação.

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Doulas em hospitais do Rio

Morgana Eneile tem dois filhos. Seu primeiro parto foi traumático. No segundo ela contratou uma doula (profissional que dá apoio às gestantes), e a experiência foi muito melhor. Ela defende a presença das doulas - hoje proibida - nas maternidades públicas do Rio de Janeiro.

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Mapas de ciclovias em SP

O ciclista Thomas Wang defende a instalação de placas e totens para direcionar os ciclistas - assim como é a sinalização para veículos motorizados. O projeto baseia-se em dois tipos de mapas físicos: um com as ciclovias da região e suas conexões. Outro mais detalhado, com o entorno do local.

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Fase de crescimento

Veja quais as redes mais usadas no celular pelos brasileiros nesse processo de democraticação do acesso à internet

A ferramenta contra o lado B do ativismo pode estar justamente na internet: na busca de mais informações, na análise da origem do conteúdo, na replicação apenas daquilo que pode ser confirmado. Para o filósofo francês Pierre Lévy, especializado em cibercultura, os riscos de manipulação são maiores quando o cidadão tem acesso a alguns poucos jornais e canais de TV. "Quanto mais fontes, menores são as possibilidades de manipulação absoluta", afirmou durante uma palestra em São Paulo no ano passado. Muitos tentarão fazê-lo, claro, mas o cidadão tem a possibilidade e o dever de pensar, comparar, aprender e praticar o pensamento crítico. "Há riscos na ciberdemocracia. Mas nada que é orgânico segue sem risco: se eles não existem, é porque aquilo já está morto", afirma. Ele lembra que IBM e Microsoft já ocuparam o papel de lobo mau hoje pertencente ao Google e Facebook, mas isso passou: "todo poder é mortal".

Enquanto essas duas empresas dão as cartas, é preciso estar ciente sobre como elas usam algoritmos para mimar seus internautas, entregando sempre aquilo que eles já gostam - um mecanismo que pode dar uma falsa força ao ativismo, indicando que "todos" estão de acordo com sua causa. "Se você tem alguma tendência feminista e clica nesse tipo de conteúdo, começa a receber mais informações relacionadas até estar cercada delas. É como se amanhã abrisse a 'Folha' e 70% das reportagens falassem sobre feminismo. Isso não acontece, é um retrato distorcido da realidade", compara Radfahrer, da ECA.

Em outras palavras, o engajamento passa também por conhecimento e busca de mais informação - que certamente estão na internet, mas não apenas no feudo do Facebook. "Chega a ser contraditório. A internet abriu espaço para aprofundarmos no conteúdo, mas a gente segue a lógica da timeline: rolar a tela para baixo de forma infinita, esperando o que vem em seguida. O conteúdo passa e já cai no esquecimento", conclui Porto, da F/Nazca. Cabe a cada usuário, hoje com o poder nas mãos, decidir o que vai fazer: realmente engajar-se nas causas que acredita ou restringir seu ativismo à ação de um clique.

Juliana Carpanez

Editora do UOL. Deixou de seguir coxinhas e petralhas durante as eleições de 2014, mas transborda tolerância com a causa animal.

tabuol@uol.com.br

#ativismo

Acompanhe em tempo real como são usadas algumas das hashtags mais engajadoras da internet Ver

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Esta reportagem também contou com apoio de:

7irisfilmes, câmera; Change.org, plataforma de abaixo-assinados; Claudia Cotes, fonoaudióloga; F/Nazca S&S, agência de publicidade; Rodrigo Bertolotto, reportagem.

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