“Aqui, refugiado odeia jornalista.”
Esse foi o primeiro conselho que recebi ao chegar ao porto de Pireus, o maior da Grécia e que se transformou, de agosto de 2015 até 27 de julho deste ano, num campo de refugiados. A dica fez com que eu praticamente não mostrasse a câmera fotográfica/filmadora na primeira semana de trabalho por lá. Eu queria me aproximar. Entender e sentir, quanto fosse possível, o que havia de vida naquela situação. Precisava ir com calma.
Havia um consenso entre sírios e afegãos, que estavam em maior número, e a minoria de iranianos, iraquianos, argelinos e marroquinos: a imprensa internacional se aproveitava deles. Reclamavam que os jornalistas, muitos passando poucas horas entre os refugiados, queriam falar sobre a crise num estilo “como-foi-a-viagem-no-bote-pelo-mar-Egeu-e-quem-da-sua-família-foi-morto-pelo-Taleban-e-quem-escapou-do-Estado-Islâmico”. E o pior, segundo eles: imagens eram feitas sem autorização, sendo que muitos ali eram perseguidos em seus respectivos países. Para quem precisava fugir, aparecer na TV era o mesmo que passar o novo endereço. Segundo os afegãos, quem trabalhou para o governo do país ou para qualquer instituição dos Estados Unidos é sumariamente considerado traidor. E todos sabem o que significava ser considerado traidor.