Os millennials escolheram levar uma vida completamente diferente das gerações anteriores, sem tantas fórmulas fixas de felicidade. O dilema, agora, é como fazer com que seus projetos deem certo - ou como definir o que é dar certo, afinal. Nesse sentido, a espiritualidade esotérica, muito flexível, cai como uma luva para a geração que valoriza tanto a liberdade.
Além de servir como gancho perfeito para falar sobre grandes temas humanos que nunca deixam de ter importância - como amor, medo ou sonhos - os oráculos também acabam cumprindo um papel que as religiões ou a ciência nem sempre cumprem: entregar respostas sobre a vida ainda antes da morte (ou mesmo provas da existência de Deus e que não estamos vagando de maneira completamente aleatória pelo planeta). Tudo isso sem excluir quem não segue os dogmas à risca.
Perguntamos ao antropólogo Hélio Menezes, especialista em cultura afro-brasileira, se o misticismo poderia ser visto como a nova religião dos millennials. Para ele, religião e esoterismo não são concorrentes. Ponto para o misticismo: ele é perfeitamente compatível com as religiões que carregamos desde a infância - aquela que dizemos seguir se o pessoal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) perguntar.
"Uma diferença importante é que as religiões trazem prescrições morais: pode isso, não pode aquilo, tem os pecados. Já o misticismo é amoral como um todo, então a gente pode afirmar que ele desinstitucionaliza nossa relação com o sobrenatural, o que é bem importante", afirma Menezes.
Para o antropólogo, o misticismo também serve para conectar pessoas em crenças comuns, de domínio coletivo e de forma descomplicada. "É muito mais fácil dizer 'putz, ser de libra é foda' do que chegar para um desconhecido e contar que a gente é indeciso ou inseguro", explica. "Além disso, o misticismo atual tem uma camada de ciência. Hoje em dia, o astrólogo te apresenta uma tese e não um discurso de padre, que diz que você deve acreditar e pronto. Isso também agrada as pessoas", completa.