Quem quer, dança. Segunda-feira é dia do Clube Zais, na Vila Mariana; às terças-feiras tem o do Ypiranga. "Se eu quiser, consigo achar lugar para dançar todos os dias da semana", diz Odail José, 78, aposentado e frequentador dos bailes do União Fraterna e também Vila Maria.
Margareth Gomes da Silva, 64, conhecida como Meg, frequenta os bailes desde 2001, quando uma vizinha pediu um sapato vermelho emprestado para ir a uma festa. Meg acabou indo junto no extinto baile "Carinhoso" do Ipiranga. A partir daí, não parou mais.
"Fui, não dancei, mas me diverti. Nessa época eu estava com uns 44 anos. Achei bonitinho as senhorinhas com vestidos de babado e os senhores que vinham falar que estavam procurando uma noiva, que queriam casar, eram umas cantadas engraçadas", conta Meg.
Nascida em Mandaguari (PR) e criada em Bertioga (SP), Margareth começou a dançar depois de se divorciar do segundo marido. "Papai me casou muito cedo, com 14 anos. Só fui estudar quando me separei do meu primeiro marido. Os bailes são uma libertação para as mulheres, mas não são só as separadas e viúvas que vão. Tem muitas mulheres casadas que fogem do marido pra ir dançar."
No União Fraterna, a certa altura do baile de sexta-feira, uma mulher cruza a pista com seu parceiro de dança e cumprimenta a reportagem com um aceno de cabeça. Movimenta-se pelo salão como uma atriz de cinema — ou talvez como a garota mais popular da escola. Alta, tem os cabelos brancos e usa um vestido comprido e ondulado de bolinhas e sandálias de salto douradas.
Liria Turra, 77, é gaúcha de Getúlio Vargas e mora em São Paulo há 53 anos. Quando era solteira, gostava muito de dançar, mas depois do casamento, parou. "Eu dançava só em casamento, em festinha de aniversário de família. Com meu marido, não podia sair, porque ele era gaúcho e italiano", conta ela, viúva desde 2019.
"Não sou desse mundo, sou uma alienígena, venho de outro planeta. E quando danço, vou para o sobrenatural, vou às nuvens. Me sinto flutuando, meu espírito fica livre. A dança afasta a morte, a doença", conta Liria, que dança três horas por dia, todos os dias da semana, acompanhada de Alisson Pires, 30, seu personal dancer.