O encontro entre as avenidas Amazonas e Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, é palco tradicional de protestos de professores, comerciantes, donos de academia de ginástica, apoiadores e críticos do governo federal.
Em 19 de janeiro de 2021, quando Alexandre Kalil (PSD) aprovou a lei 11.285, uma aglomeração diferente atraiu olhares curiosos: cavalos, carroças e seus donos se juntaram para protestar contra a proibição dos veículos de tração animal na cidade. Mais de 200 carroceiros, vestidos com camisetas onde se lia "A cidade é minha roça", gritavam contra a determinação de Kalil, que prevê a substituição gradual das carroças por motocicletas adaptadas, em um prazo de dez anos. Subia um tremendo barulho de buzina, vozes e cascos batendo no asfalto.
Belo Horizonte é a única capital do Sudeste que ainda divide as pistas de trânsito com carroças. A poucos quilômetros de prédios esguios e espelhados, o cenário da cidade torna-se gradualmente mais rural, conforme a periferia se aproxima. Não é raro ouvir galope de cavalo nas ruas mais distantes da avenida do Contorno, que delimita o centro.
Criada em 2018, a Associação de Carroceiros e Carroceiras Unidos de Belo Horizonte e Região Metropolitana defende que a proibição ignora os recortes sociais, geracionais e históricos de 10 mil profissionais, além da relação singular que têm com o cavalo: o animal não é considerado mero meio de transporte, mas sim companheiro de trabalho — e de vida. Eles lutam para continuar existindo e trabalhando em BH, cidade erguida em cima de um antigo curral e que, ainda hoje, guarda relação íntima com a paisagem rural.