A jornalista Larissa Magrisso nunca quis ter filhos, mas sempre admitiu que um dia poderia mudar de ideia. Quando chegou aos 33 anos, seguia sem o desejo da maternidade, mas sabia que o tempo para um novo rumo estava se esgotando. Enfrentar a questão virou sinônimo de angústia. Será que não queria mesmo? E se a vontade de ser mãe viesse tarde demais para realizá-la?
Depois de um tempo de investigação, com muita leitura, conversa e pesquisa, viu que não queria mesmo. Apesar da convicção de que, naquele momento, ser mãe não era uma opção, ela continuou achando que um dia poderia rever a decisão.
Nesse processo, Larissa precisou lidar com duas questões inerentes ao ser feminino. A primeira é que, em sociedades como a nossa, a maternidade é quase um pressuposto da condição do seu gênero. Questões sobre quando, com quem, qual será a educação, o nome, o padrinho, sexo preferido para os filhos cercam as mulheres por todos os lados. E, além de todas as pressões sociais, ela encarou uma outra, biológica e implacável: a passagem do tempo. Graças à evolução da medicina, esta foi mais fácil de resolver.
Aos 35 anos e casada, Larissa congelou óvulos. Um ano depois, diz que aquela angústia deu lugar à tranquilidade de quem deixou aberta uma possibilidade de mudança. Isso porque, com as técnicas de congelamento, é possível “pausar” o relógio biológico – o que pode ser o ponto de partida de uma nova revolução para uma maior autonomia e a liberdade das mulheres, assim como ocorreu com a pílula anticoncepcional, que permitiu dissociar sexo e procriação.