As coisas estão tão difíceis na família Tamashiro que não houve comoção por Gilberto dormir no trabalho. Naquela terça-feira, o empresário de 57 anos reviveu a juventude como dekassegui no Japão, quando trabalhava muito e descansava quase nada.
A diferença é que naquela época ele tentava construir um patrimônio. Agora, vive o desespero. Dono de dois pontos de comércio em São Paulo, está atolado nos boletos. O restaurante dos Tamashiro, no Jabaquara (zona sul de São Paulo), nunca foi forte em delivery e a queda no faturamento fez a dívida acumulada com aluguel bater os R$ 30 mil. Os carros dele e da mulher rodam com IPVA atrasado e sem seguro.
Estas são situações menos preocupantes. Gilberto também era sócio numa loja de artigos para noivas. Com casamentos adiados na pandemia, o negócio foi fechado. O espólio são notificações de processos trabalhistas chegando toda semana.
A situação foi administrável enquanto poupou os filhos. A mulher, Rose Tamashiro, 52, vestiu a camisa e os dois assumiram a cozinha para reduzir despesas, dispensando funcionários. O restaurante ficou fechado por apenas 10 dias. Não tinha como parar.
Mas, depois de oito baixas, foi preciso pedir para Guilherme, o filho de 23 anos, interromper a faculdade de engenharia mecânica e ajudar na cozinha. Fernanda, a filha de 18 anos, assumiu o caixa e adiou a busca por um curso de odontologia.
Isso é uma derrota para qualquer pai. Um tempo atrás eu falei para meus filhos que o pai não liga de deixar de comprar uma calça melhor para ajudar eles. Mas hoje não sou eu que estou ajudando, são eles que estão me ajudando