Foram 1406 horas de monitoramento no Facebook. O suficiente para saberem que eu não tenho religião, não frequento academias e prefiro roupas confortáveis a estilosas. Também fui classificada como extrovertida, aberta a mudanças, competitiva e levemente impulsiva. Encontraram desafetos e descobriram interesses. Nenhuma dessas informações foi cedida conscientemente. Elas foram resultado de uma coleta de dados invisível, incessante, dentro do Facebook, e depois organizadas numa extensão para o navegador Chrome chamada Data Selfie.
O projeto foi criado em 2017 pela pesquisadora Hang Do Thi Duc. Enquanto cursava o mestrado, ela descobriu que, com um código, era possível saber se uma pessoa clicava em algo, movia o mouse, rolava a tela ou digitava. "Isso mudou a forma como eu navegava na internet", conta. "O meu uso do Facebook começou a ficar estranho. Ficou claro para mim que 'eles realmente sabem o que está na minha mente'".
Então, em vez de ser rastreada pela plataforma, ela preferiu rastrear a si própria. Criou o Data Selfie como um autoexperimento, mas o projeto se tornou um laboratório de conscientização sobre privacidade, que faz a mesma leitura e previsões que o Facebook faria sobre você. "Eu fiquei muito surpresa com o quanto os resultados são precisos", afirma. "Apenas pense no tempo todo em que você ficou dando dados para o Facebook", completa a pesquisadora.