“Uma das hipóteses que cogitei foi de, eventualmente, ela ter tido um acidente e perdido a memória”, diz a mãe. Isso a levou a passar dias na cracolândia, na região central de São Paulo, mas Ana Paula não estava lá. Passou noites andando pela cidade, entrou em favelas, invadiu lugares de desovas de cadáveres. “Fiquei uma semana com os moradores da Praça da Sé. Depois recebi um telefonema que ela estaria em Santos e passei três dias lá dormindo com os moradores de rua. Fui a Curitiba, Rio, Itu, Recife. Até hoje, onde disserem que ela foi vista, eu vou”, afirma Sandra, que só tem uma certeza: a filha está viva. “Deus me faz acreditar nisso para continuar de pé, porque não estou preparada para lidar com a minha filha morta. Se pensar isso hoje, eu desabo”, confessa.
Sandra esteve nove vezes em Brasília. Visitou o Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos, a Presidência da República. A parceria com o Ministério Público de São Paulo foi a mais efetiva. “A Lei de 2014, que prevê que um inquérito não pode ser encerrado enquanto não houver uma resposta para as famílias, foi tirada do meu projeto”, conta. Sandra elaborou um projeto de lei que foi aproveitado em partes pelo MP.
A gênese tanto da peregrinação quanto da proposta de mudança da lei foi a falta de uma resposta policial. “Eu cheguei lá e eles me disseram: ‘Agora a senhora traz informações e, se tiver novidades, a gente vai atrás’. Aquilo foi um tapa na minha cara, eu queria avançar no delegado”, lembra. “No momento em que fiz um boletim de ocorrência na delegacia em Carapicuíba, não parece razoável que essa informação esteja disponibilizada na mesma hora para todas as delegacias do Brasil? Para pedir as imagens do aeroporto para saber se a minha filha passou por lá eu preciso de uma ordem judicial e, até isso acontecer, minha filha já está no Japão!”