O Clube de Regatas do Flamengo lamenta profundamente a tragédia que fez dez vítimas fatais no Centro de Treinamento George Helal na madrugada desta sexta-feira (8) e se coloca inteiramente à disposição das autoridades e das famílias para auxiliar na apuração das causas do incêndio e, de alguma forma, minimizar a dor e o sofrimento das famílias dos atletas e funcionários atingidos.
Lamentamos profundamente o ocorrido. E fazemos isso de maneira automática e incessante. Só em 2019, o Flamengo já "lamentou profundamente" a morte de dez meninos em instalações de responsabilidade do clube, exatamente como a Vale "lamentou profundamente" a morte de mais de 200 pessoas, causada por uma de suas obras. Quase idêntica foi a manifestação do Extra Hipermercados sobre o "lamentável episódio" do assassinato de Pedro Henrique Gonzaga em uma de suas lojas. O advérbio sofre pequeno ajuste quando o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, "lamenta com profundo pesar" as mortes de sete pessoas após a chuva na cidade, mas a ideia é a mesma.
O relato de casos poderia continuar - é possível que apenas em 2019 haja mais exemplos do que dias no ano. Não importa o tamanho da falta ou a responsabilidade do emissor. Pessoas públicas, chefes de Estado, grandes corporações ou empresas médias dão satisfações públicas tão esfarrapadas quanto burocráticas, mas seguem o ritmo da hiperinformação.
São ofensas, assassinatos, destruição de cidades inteiras, tanto faz. A reação é a mesma. Rápidas, defensivas e impessoais, as "notas de esclarecimento" acalmam a sanha de quem cobra respostas pelas mídias sociais - ou pela imprensa. E ganham tempo para que o escândalo da próxima hora leve a crise para outro CNPJ.