Maria Zélia Carneiro Silva, 62, costuma ir ao supermercado uma vez por semana. Na lista de compras: arroz, feijão, café, leite, ovos, entre outros itens, sem esquecer das bolachas recheadas e do achocolatado para o neto de 12 anos. Frutas e hortaliças? Só quando sobra dinheiro. “É difícil também porque ninguém em casa gosta muito e acaba estragando rápido”, conta.
Além da dificuldade econômica, barreiras físicas também atrapalham a jornada que leva ao hipermercado mais próximo. “Às vezes pego um ônibus para facilitar e costumo voltar de táxi, pois não consigo fazer a volta com as compras”, diz. Na Serra da Cantareira, na zona norte de São Paulo, as casas ficam em lugares altos. O local é repleto de ladeiras. É preciso andar por pelo menos 20 minutos até o estabelecimento com maior variedade de produtos do bairro, que abastece praticamente sozinho todos os moradores da região e do entorno da Vila Albertina.
Maria Zélia está em um deserto - mas no lugar da areia está o asfalto e o cimento. E a escassez é de comida de verdade. Trata-se de um deserto alimentar. O conceito, recente e complexo, define os lugares com difícil acesso a alimentos nutritivos - e que têm, como consequência, a diminuição do seu consumo.