A baiana Laura*, 36, é uma das veteranas de uma comunidade para dependentes químicos na região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Ela permaneceu no local mesmo após o fim do tratamento para alcoolismo, doença que a fez perder o emprego em um hospital - ou "lá fora", como ela mesmo fala. Laura lembra que, para aplacar as crises no início da recuperação, foram muitas idas à capela do complexo. "Graças a Deus, no dia de hoje, no momento presente, eu já não sinto mais falta da bebida, da droga, do cigarro", afirma.
Assim como outras "madrinhas” – uma das muitas palavras do vocabulário interno –, Laura tem responsabilidades na fazenda onde funciona a comunidade. Ela acompanha as recém-chegadas e monitora os trabalhos. Há uma horta e fabricação de produtos com babosa, que são vendidos para as famílias das residentes – é assim que são chamadas as mulheres que ali vivem e decidiram “ficar limpas”. Esse grupo é formado por brasileiras de várias origens e algumas estrangeiras latino-americanas que compartilham uma rotina de grupos de apoio, missas e orações. "O dia-a-dia aqui é trabalho, convivência e espiritualidade", afirma Laura. "É o tripé".
Esse conceito de tratamento ganhou o nome de comunidade terapêutica (CT). A proposta desses espaços é servir à recuperação de dependentes químicos por meio da espiritualidade. Esses centros são entidades privadas que contam com apoio crescente de várias esferas do governo, embora muitas desrespeitem protocolos de proteção de direitos humanos – como a liberdade ou a ausência de crença. A maioria é ligada à instituições religiosas. Dentro deles a presença de profissionais da saúde varia, mas quase metade não contam, por exemplo, com consultório médico.
Fundada há 30 anos, a comunidade Fazenda Mãe da Esperança, onde Laura vive, é pioneira no acolhimento de mulheres. Na noite anterior à visita do TAB, uma delas havia dado à luz. Mães podem ficar com filhos de até um ano durante os tratamentos, que são longos – uma das exigências é assinar a carta de entrada que prevê um período de 12 meses fora da vida em sociedade.