Em meio a uma enxurrada de perfis que repetem fórmulas de sucesso, a reportagem foi atrás de um contraponto - uma usuária que se destaca por mostrar uma realidade aparentemente crua. Chegamos então à carioca @ex_miss_febem, com um retrato da vida suburbana. Em uma das fotos, por exemplo, ela colocou uma munição de fuzil entre os dentes e escreveu: “Bom dia para todos os amigos que acordaram com uma cápsula de 762 no quintal”. Espera, diferentona. Cadê as tradicionais hashtags inspiradoras do amanhecer?
Apesar do conteúdo, foi durante a entrevista ao TAB que a artista visual Aleta Valente, 30, mostrou seu lado mais realista – aí, sim, na versão #semfiltro, como fica claro no vídeo do início desta reportagem. “É um perfil ficcional, crio situações a partir da minha realidade. Tem momentos em que monto as fotos, mas no geral a ideia é exacerbar o estereótipo da mulher da periferia, fodida, pobre, mãe solteira.” E tem mais. A ex-miss febem nunca passou pela antiga Fundação Estadual do Bem Estar do Menor: o apelido vem da música “Kátia Flávia”, hit de Fausto Fawcett.
Nem tudo é falso. Aleta nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro. Não tem emprego fixo, diz estar financeiramente falida e tem uma filha de 11 anos, que mora com a avó paterna. Mas seu Instagram funciona pouco como um registro da vida e muito como plataforma de arte, ligada à discussão do gênero e apartheid social. Diz que “as coisas borraram” e, por isso, não sabe quanto há de performance ou realidade em cada foto. Quanto há de Aleta, quanto de ex-miss febem. Também acredita que, nas redes sociais, os usuários estão dispostos a aceitar o que veem. “Às vezes publico uma foto da praia e querem saber se estou no posto 8, no posto 9. Na verdade, estou no sofá”, afirma.
Do subúrbio carioca à festa mais glamourosa, tudo está sujeito à aplicação de filtros – sejam eles truques fotográficos ou autocensuras, seguindo o interesse do autor. Mas, a esta altura, seguidores já têm indícios para saber que o “reality show” das redes sociais não é tão real assim. Afinal, a idealização que orbita o mundo virtual já foi tema do seu estágio no Orkut, graduação no Facebook e, mais recentemente, pós-graduação em Instagram. Se a grama do vizinho estiver muito verde, talvez se deva à saturação de tons no Photoshop. Na dúvida, vale sempre interromper a rolagem desenfreada da tela e perguntar se tudo isso é mesmo vida real – mas esteja preparado para receber um "não sei" como resposta.