A Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), no Largo de São Francisco, forja, há quase 200 anos, a vida pública de dezenas de lideranças políticas brasileiras, de ministros a presidentes da República.
Na frente desse mesmo largo, na praça Ouvidor Pacheco e Silva, mora Kamila Gonçalves, 37. Ela passa todas as suas horas na calçada da rua, junto do marido Odair Antonio, 40, e seus dois filhos, Pedro, 15, e Luiza, 6.
Depois de Odair ficar desempregado e terem de vender quase tudo que cabia no cubículo onde viviam, na rua do Glicério, fizeram do concreto do Centro seu lar.
Forraram o espaço com tapetes para servir de chão e colchão, armaram a barraca de camping e cobriram tudo com uma lona azul. Carrinhos de supermercado guardam roupas e o que não foi vendido. Ao redor deles, outras pessoas também fazem da praça sua morada.
Homens entre 35 e 50 anos são a maioria, vivendo sozinhos debaixo de lonas estiradas uma ao lado da outra. Todos se reúnem em volta de uma torneira para lavar roupa e molhar o corpo em dias de mormaço.
Esta cena, cada vez mais comum no país, intensificou-se com a crise econômica. Segundo dados do Ministério da Cidadania, já são mais de 14 milhões de brasileiros vivendo em extrema pobreza.