O feminismo indígena deu as caras na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, durante o Acampamento Terra Livre na semana passada, com plenários e debates. Há quem se surpreenda com a voz forte dessas nativas brasileiras, mas não deveria - esse sentimento é cada vez mais forte nas aldeias, queiram ou não caciques e pajés. Um dos maiores exemplos ocorreu em setembro de 2018, em Cacoal (RO), quando a terceira edição da Assembleia Anual da Agir (Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia) reuniu em acampamento 150 representantes de diversas etnias para discutir o empoderamento nas questões indígenas.
O evento ocorreu sob um verão amazônico que, assim como as discussões, só dava trégua de madrugada. Desde bem cedo fazia calor e, logo no segundo dia da assembleia, surgiu a principal polêmica do encontro. Uma convidada do Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) fazia sua palestra sobre a prevenção do câncer de mama, com as mulheres todas em pé e ensaiando o autoexame, quando Maria Leonice Tupari, coordenadora da Agir, pegou o microfone e fez a pergunta que mudaria o rumo de muitas que estavam ali: "Nós gostaríamos de saber o que vocês (da saúde indígena) têm feito em relação à questão do aborto entre nossas mulheres?"