"E hoje, amadas, tem trabalhozinho?", pergunta Presença a duas mulheres sentadas na calçada, clientes antigas. De segunda a sexta-feira, ele sai de sua casa na cidade de Igarassu, na região metropolitana do Recife, deixa a moto no meio do caminho e anda de quatro a cinco horas oferecendo retrato. Está no loteamento Agamenon Magalhães, redondezas da própria residência, depois de ter vindo da cidade de Paulista. No braço leva duas imagens, além de uma pasta preta, o docset, com sugestões de cenários de fundo.
Presença não vende mais fotopintura feita em papel fibra, aquela desenhada à mão com as tintas. Agora os serviços são restauro dessas fotopinturas — em computador — e de fotografias antigas, ampliações de imagens digitais, montagens e fotografias em porcelana. As primeiras custam R$ 100; a última, R$ 250. Em dia bom, Presença consegue recolher quatro fotos, que junta em envelopes de caixa eletrônico de banco.
O sucesso depende da confiança — o que para ele, homem negro, nem sempre é fácil. Para evitar o racismo, chega a abrir mão do que chama de melhores clientes, pessoas da "alta sociedade, que têm muita foto antiga para restaurar", e aposta nos bairros "de gente como a gente".
A estratégia de convencimento tem lá suas artimanhas. O cliente sempre tem uma foto, mas quer ser conquistado. Se a pessoa abrir a porta, Presença engata. "Opa, bença! Olha como fica, bem bonito. Dá pra botar vários cenários, dê uma olhadinha sem compromisso..." É quando apresenta o docset. Se a pessoa tocar a pasta, as chances de venda são de 50%. Se perguntar o preço, aumentam para 70%, calcula.
Para o caso de a pessoa querer imagem na hora, Presença carrega uma máquina fotográfica profissional. "Com celular é complicado, a foto não sai boa", diz aos interessados. Presença tem mês regrado: dez dias na rua, dez nos estúdios do Recife e buscando molduras, dez entregando as fotos e tentando o que ele chama de "bis", quando o cliente faz um segundo pedido no ato da entrega.