A operação militar russa contra a Ucrânia não é um ato isolado, ainda que seja o mais grave em anos para a segurança internacional. A atual crise faz parte de uma ofensiva, tanto da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como da Rússia, para lidar com um capítulo mal resolvido do final da Guerra Fria, há três décadas: os limites das esferas de influência e o papel de duas superpotências numa ampla região do planeta.
Como resultado, às sombras do que foi o império soviético no século 20 proliferam protetorados, países-fantasma, ficções jurídicas e sociedades que vivem no limbo.
Ao longo dos últimos 15 anos, em diversas viagens que realizei pelas bordas desse império, o que constatei é que a história do colapso da URSS não acabou e as fronteiras do que a substituiu ainda não estão desenhadas. Ao contrário das vozes vindas de um orgulhoso e prepotente Ocidente, a história está inconclusa.
No fundo, o que aquele evento gerou foi um terremoto que continua reverberando. Basta pisar em algumas dessas regiões para se dar conta de que a instabilidade é a rotina de milhões de pessoas, sequestradas pela disputa de poder, pela geopolítica e pela história.