Você não precisa concordar com a mensagem, mas é certo que muitas hashtags fizeram parte da sua vida nos últimos anos. Essa nova categorização da vida e ideias se tornou tão poderosa que é possível contar a história recente da nossa sociedade, apontando as principais tendências e debates políticos, usando apenas hashtags. Quer tentar? Vamos lá: #EleNão #BlackLivesMatter #MeToo #MeuAmigoSecreto #PrimeiroAssédio #NãoVaiTerCopa #VemPraRua #ForaTemer #ForaPT #SeraQueÉRacismo #MexeuComUmaMexeuComTodas.
Algumas "#" dessa espécie ajudaram, há alguns anos, a criar a expressão "ativismo de hashtag", uma atualização da era digital para "ativismo de sofá". A ideia era criticar a turma que adora fazer muito barulho, mas apenas nas redes sociais. Volta e meia a expressão ressurge, seja quando uma manifestação soa pouco eficaz, seja quando a proposta da hashtag não tem efeito imediato. Mas esse rótulo, que contém boa dose de ironia, faz sentido? Considere que muitos "muros" que separavam as vidas online e offline já eram. O que significa, então, uma hashtag ser bem sucedida?
Foi por meio de uma hashtag popular que, em 2015, Beatriz*, 30, contou ter sido abusada por um parente que havia cometido a mesma agressão, sistematicamente, contra todas as mulheres de sua família durante a infância e a adolescência delas. O relato causou tristeza, mas não surpreendeu amigas, que dividiam nos comentários histórias parecidas. Elas não foram as únicas. Mais de 80 mil tuítes foram catalogados pela #PrimeiroAssédio. Além do caráter de desabafo e da visibilidade dada a um problema cuja dimensão, à época, não era percebida, essa avalanche ofereceu uma amostra de dados sobre idade e local de abuso de mulheres brasileiras. Nos EUA, a #MeToo, campanha contra a cultura do assédio no ambiente de trabalho, gerou até junho de 2018 mais de 400 acusações dentro de empresas.
"O uso de uma hashtag como estratégia de 'vamos cercar vocês com esse conteúdo' tem um poder de sensibilização muito forte", afirma Mariana Valente, diretora da InternetLab, centro de pesquisa independente em direito e tecnologia. Se é verdade que uma hashtag sozinha não faz verão, também é certo que, entoada em coro, ela pode causar algumas tempestades.