O plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo tem uma geopolítica curiosa. Do lado esquerdo de quem olha para a mesa diretora, aglomeram-se deputados do PT, PSOL e PCdoB. Do lado direito costumam ficar os parlamentares do PSL, PP ou Republicanos.
Pelo meio, de preferência na primeira fila, acomoda-se Janaina Paschoal (PSL) — a deputada que foi parar ali carregando 2.060.786 votos, a melhor performance de toda a história legislativa brasileira.
Tentar um lugar na primeira fila é mania que Janaina cultiva desde sempre, dos bancos das escolas que frequentou na zona leste de São Paulo aos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde se graduou em direito e depois virou professora. Ocupar o meio não deixa de ser uma coincidência, considerando algumas fronteiras que, nos últimos tempos, às vezes pareceram borradas.
Eleita no mesmo arrastão que levou Bolsonaro ao poder, Janaina tem sido vista defendendo pautas com jeitão de esquerda, como o projeto de lei que facilita o acesso de qualquer mulher à laqueadura, mesmo quando ela ainda não tem filhos e sem autorização do companheiro. A lei foi vetada pelo governador João Doria (PSDB) e ela partiu para cima dele com críticas contundentes.
Vez por outra, senta a pua em Jair Bolsonaro e foi contra os atos convocados para defendê-lo. Para alguns ficou a dúvida: qual é hoje, afinal de contas, o quadrado da deputada mais votada do Brasil?
"Não sou bolsonarista, discordo de várias coisas da agenda dele -- sou radicalmente contra a redução da maioridade penal, e essa é uma bandeira tradicionalmente de esquerda. Mas sempre fui de direita. Sou contra o aborto, contra a legalização das drogas, contra o totalitarismo das esquerdas que vi de perto na academia", afirma. Em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Lula, vai de Bolsonaro. Entre Bolsonaro e Moro, apoiaria o ex-juiz. "O que não quero é que a esquerda volte", diz. Janaina é, antes de tudo, uma antipetista atávica.
O alcance da onda que a levou ao Legislativo é um dos grandes mistérios nas próximas eleições. Decidiu que estará no jogo, tentando a única vaga de São Paulo para o Senado, e que sairá do PSL. De cara, atiçou o interesse de uma fila de pretendentes. "Todos os partidos me convidaram, alguns de forma direta, outros por meio de sondagem", afirma. Até Bolsonaro está de olho. Em meio às intermináveis negociações para se filiar ao PL, o presidente cogitou convidá-la a aderir à legenda também. Assim, os dois formariam uma aliança robusta no palanque paulista. No momento, ela não leva a possibilidade a sério. "Ele mesmo não fez contato comigo. E só ele fala por ele. Não defini ainda para qual partido vou, mas não pretendo ir para o PL. Preciso ter liberdade. Lá, o presidente e os filhos vão mandar em tudo. Eu ficaria refém."