Dia de formatura.
O mantra vem alto, forte:
“Polícia Militar, sob a proteção de Deus. Compromissada com a defesa da vida, da integridade física e da dignidade da pessoa humana”.
A voz uníssona dos mais de 2.000 novos soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo toma o Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte da capital. No lugar do festival de cores do Carnaval, a avenida recebe uma massa alinhada de fardas cinzas. No meio dessa coreografia está Mônica Portela, 26. Filha de militar e formada em rádio e TV, ela decidiu usar sua habilidade para comunicação em benefício da corporação que aprendeu a respeitar ainda dentro de casa.
Quem também está no local, mas no alto do palanque, é o coronel aposentado Paulo Telhada. Polêmico e símbolo da bancada da bala, o hoje deputado estadual assiste à cerimônia ao lado de figurões como o governador Geraldo Alckmin, o vereador e ex-tenente da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) Conte Lopes e o jornalista Reinaldo Azevedo - escolhido como paraninfo da turma.
Não muito longe dali, em Santana, João*, 23, estuda para prestar o concurso da corporação e ser também uma nova cara da PM – se tudo der certo, futuramente ele participará de uma cerimônia como a do sambódromo. Filho de um psicólogo e de uma nutricionista, ele sempre teve interesse em segurança pública. Se conseguir entrar, João diz que sonha em mudar a imagem de “violenta” e de “espírito ligado à ditadura” que a PM possui.
A questão apontada pelo jovem candidato talvez seja um dos maiores desafios da nova geração. Publicado em 2016, o 10º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública informa: 70% dos brasileiros acham que as polícias, tanto militar como civil, exageram no uso da violência. Já 59% dizem ter medo de serem vítimas de policiais. O receio se justifica pelo índice de letalidade: só em 2015, 3.345 pessoas morreram no país vítimas de intervenções policiais (mortes por reação do policial em matar alguém durante uma ocorrência, dentro ou fora do horário de trabalho).