As "maids" (do inglês, "empregadas") são figuras que representam bem o comportamento kawaii no Japão. São mulheres que usam roupas inspiradas nos serviçais da Era Vitoriana (1837 a 1901) e trabalham em cafés servindo um público majoritariamente masculino. Entre as práticas comuns, as maids chamam os clientes de "mestres", atendem como se fossem personagens de anime e fazem uma magia (um gesto) ao servir, desejando que a comida fique mais gostosa.
A paulistana Karina Cavalcante, 26, conheceu cafés semelhantes no Brasil que, em vez de terem um local fixo, funcionavam apenas durante eventos de anime e cultura nerd. Há cinco anos, ela decidiu encarnar uma maid e abrir o próprio negócio itinerante, o Chest of Wonders Cafe. "No começo, as pessoas viam como algo fetichizado, que deixa a mulher numa posição submissa. Mas acho que é mais pelo lado da interpretação, da brincadeira. A gente está prestando um serviço e as pessoas ficam felizes, se sentem acolhidas", conta Cavalcante, que se considera feminista. "A gente faz tudo com consentimento. Tem gente que fetichiza as maids porque veem coisas parecidas nos animes, mas anime fetichiza tudo, né?".
"É complexo e problemático. Nos maid cafés do Japão rola assédio, fetichização, até porque a mulher se coloca na posição de servir o homem. A sociedade japonesa ainda é muito patriarcal", argumenta Nakamura. "Hoje em dia se fala mais em empoderamento feminino no kawaii, mas, até pouco tempo atrás, não era comum ser associado a isso", completa.
Há alguns anos, os "butler cafés" (butler, em inglês, significa "mordomo") começaram a surgir no Japão, com uma proposta contrária: são garçons que se vestem com roupa social e chamam as clientes de "minha princesa". O butler Gabriel Ferreira, 23, que trabalha esporadicamente com Karina, conta que o café criou uma versão adaptada para o Brasil, em que homens e mulheres são atendidos com a mesma cortesia e chamados de "mestres" e "mestras". "As pessoas que frequentam não estão procurando só comida e bebida, elas querem se sentir especiais, como realmente são. Eu piro na cordialidade da cultura japonesa", diz Ferreira, que passou a se interessar por cultura kawaii ao participar de eventos de anime e cultura nerd.