FERVO NEON

Queridinho dos swingueiros, clube Las Vegas, no Rio, tem dark room só para mulheres e nº limitado de solteiros

Luiza Souto (texto) e Lucas Landau (fotos) Colaboração para o TAB, do Rio

O que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas, seja na cidade norte-americana ou no clube de swing que leva o nome da capital da jogatina. A casa da Vila Valqueire, na zona oeste do Rio de Janeiro, já foi antigamente termas e hoje é referência no mundinho da troca de casais.

A reportagem do TAB acompanhou a festa "Topless Neon" da Las Vegas Swing Club. Na chegada, uma maquiadora artística dava um moscow mule às mulheres que topassem receber uma pintura nos seios. Muitas iam tirando a blusa logo de cara.

Os donos da festa são o "Casal Pimenta" — assim descritos nas redes sociais — Fernando, 58, e Fátima Lopes, 56. Juntos há 22 anos, eles são os responsáveis pelos sábados da Las Vegas. "Tudo ideia dele", entrega Fátima, ao justificar a noite de cores fluorescentes.

Sol Almeida, 38, a maquiadora, é swingueira há 4 anos. "Fui traída e tinha saído de uma separação traumática. Resolvi que era mais fácil lidar com relacionamento liberal, porque é mais honesto", conta ela, que estava ali "só para trabalhar".

Esta é uma reportagem da série publicada pelo Aba Anônima contando o que rola nas casas de swing pelo Brasil.

LOTADA COMO UM INFERNINHO

Eram 22h em ponto quando as primeiras duplas começaram a ocupar a pista. Uma hora depois, a casa estava mais cheia que muito inferninho da boêmia Lapa.

O som do DJ Junior Irajá, 46, retumbava na mais alta potência, e ia de Luísa Sonza a Anitta. "Toco música para as mulheres se soltarem mais. Geralmente é funk."

A casa enorme, com pé-direito alto, tem uma pista de dança no primeiro andar, um balcão de bar de ponta a ponta e palco com poste no meio para shows de striptease.

Fernando garante que a Las Vegas é o único lugar do Rio com dark room onde só mulheres entram. Ao lado há um outro, menor, liberado para todos os gêneros. Em cima, um terceiro dark room pode conjugar 30 pessoas. "Dependendo do momento, o negócio aqui vira o fervo."

Não dá para pescar muita coisa no "glory hole", um labirinto escuro e meio claustrofóbico, cheio de cabines com entradas separadas para casais e solteiros. Até certa hora da noite, o fervo era ali. Na penumbra, homens faziam fila para receber sexo oral ou penetrar alguém com dedos ou pau, do outro lado dos buracos. O gemido vinha de todas as partes.

"Quem está dentro não vê se o cara é gordo ou feio, e o de fora não sabe quem chupa. Às vezes, o marido chupa melhor que a mulher", diz Fernando.

Quem quiser ver a ação toda vai encontrá-la nos fundos, na área dos quartos, alguns com capacidade para até 30 pessoas. Em um deles, enquanto uma mulher gemia alto, transando com um homem, um solteiro observava da porta com a mão por cima da calça, esperando uma deixa.

AVESSOS AOS SOLTEIROS

Na Las Vegas só se entra com nome na lista. Solteiros e solteiras participam em número limitado (15 por dia) e são identificados por pulseiras coloridas.

De blusa preta fina e transparente, Fátima não saía da entrada: é ela quem recepciona cada convidado. A maioria tem 40 anos e alguns vêm de longe — no dia da festa, um casal veio de Natal (RN). "A porta fica aberta. As pessoas passam na rua e eu com os peitos assim", brinca.

O Casal Pimenta não participa do swing. "Onde se ganha o pão não se come a carne. A gente se diverte em festas de amigos", avisa Fernando, sem desgrudar do celular.

Num canto do salão havia dois homens avulsos, com pulseira rosa. Contidos, um em cada mesa, observavam um homem sentado com as mãos entre as pernas da companheira, que rebolava de vestido curto.

Fernando explica que muito casal não quer saber de homem sozinho, porque não tem como trocar. "Temos um corredor privativo, com segurança na porta, só para casais."

Nesse corredor estava o Casal Meia-Noite (como aparecem em redes sociais). Juntos há dez anos, só fazem swing e não curtem solteiros. Para a dupla, homem sozinho "vai com muita sede ao pote", explica Jennifer, 26, que é bissexual.

A dupla diz que não sai de casa sem combinar as regras da noite. E ainda rola aquele feedback na volta, com direito a apelidos.

"Tem um casal que a gente chama de Pac-Man, porque fica atrás da gente, mas a gente foge", brincam eles, já tirando a roupa.

LIMPEZA IMPECÁVEL

O viés é 100% hétero, mas Fernando diz que "todos são bem-vindos". "O casal de swing busca troca. Como vou trocar com dois homens?", questiona, sem mais.

A interação, aliás, é até contida: frequentadores avisam que a coisa ferve mesmo após os shows de striptease. Até 2 horas da manhã, pelo menos na pista, o que rola é muita sarrada, dança e bebida.

Enquanto uma mulher se apoiava na parede, o parceiro vinha por trás e rebolava ao som do funk, se esfregando e dando tapinhas na bunda da parceira. Outra dançava agachada com a cara enfiada no meio das pernas de um homem.

Mais no meio do salão, uma mulher usando biquíni neon mantinha as pernas abertas, sentada na cadeira, enquanto o homem ao lado acariciava por cima e por baixo da calcinha. Ao lado, um sanduíche humano: uma mulher entre um casal beijava ora ele, ora ela.

"Se estiver pensando em fudelância, não venha", avisa Renata Machado, 43, do Furduncinho da Rê, grupo de swing. Acompanhada do companheiro, Cidclei, 49, ela diz que, diferentemente de uma festa liberal, o swing tem mais regras. "Essas festas atendem às nossas necessidades porque tem organização e a limpeza é impecável. Já viemos só para dançar, e ninguém mexe com as mulheres."

Em três anos trabalhando na Las Vegas, o bartender Felipe Santos, 35, diz que se surpreendeu por não ter encontrado um ambiente "hardcore". O choque mesmo foi outro. "Um dia apareceu um casal de pai e filha. Eles não faziam sexo entre si, mas participavam do mesmo ambiente".

AÇÃO CONTIDA

Ali não tem essa de segurar no braço, colocar a mão no cabelo, dizem as mulheres. É regra entre os swingueiros que os homens conversem entre si, caso se interessem pelas respectivas companheiras. Ou que as mulheres falem umas com as outras. Um homem nunca chega numa mulher.

Juntos há duas décadas e frequentando swing há quase um ano, um casal novato — ele, um cara de 37 anos; ela, de 36 — conta que se sente mais à vontade na Las Vegas do que em qualquer outra boate. "É um lugar respeitoso", observa a analista de sistemas.

De saia preta colada e com os seios pintados, uma frequentadora de 41 anos, quase 25 de swing, mostra desconforto com esse tipo de público. "Eu não deixei meu filho em casa para não fazer nada..."

Os funcionários são orientados a não interagir com o público. "Às vezes passam um pouco do ponto, homens e mulheres cantam, pedem telefone, mas nunca foi um problema", diz a bartender Rafaela Barbosa, 34.

Enquanto falava com a reportagem, Rafaela preparava um moscow mule. Mas o drinque campeão de vendas mesmo é a caipirinha, ela entrega. A casa oferece ainda alguns petiscos como batata frita e calabresa.

Outra regra seguida à risca é higienizar os quartos assim que forem desocupados. "Às vezes não dá tempo e os grupos entram junto com a faxineira", diverte-se o anfitrião.

O ponto alto da festa começou lá para 1h30, com apresentação dos strippers Pedro Melchiades e Ale Misteriosa. Ambos fizeram suas danças sensuais na companhia de alguém da plateia. Acabou o show às 2h, e a pista, de repente, esvaziou. Ao longo da madrugada, enquanto quase todos gemiam nos quartos, os novatos permaneciam na pista dançando.

SERVIÇO
Las Vegas Swing Club:
Estrada Intendente Magalhães, 1.183, Vila Valqueire, Rio, tel.: (21) 96604-9486 (WhatsApp). Só para convidados (nome na lista). Funciona de quarta a sábado, das 22h às 5h. Valor de entrada: de R$ 30 (casal) a R$ 190 (solteiros após 0h, nos fins de semana).

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