Visitar a Provença no verão europeu é uma experiência sensorial inesquecível. A imensidão dos campos floridos não deixa ninguém duvidar: aqui é o reino da lavanda. Ou era. Esse reinado está em decadência.
O perigo não vem apenas da visitação dos turistas e dos ataques de insetos, principal inimigo dos agricultores, mas das secas e geadas cada vez mais imprevisíveis.
"Não sei se estaremos aqui em dez anos", declarou o agricultor Michel Blanc, 56, à reportagem do TAB. A frase espanta, não por seu sentido filosófico — afinal, ninguém sabe onde estará em dez anos —, mas porque a urgência climática ameaça seu modo de vida. Os "acidentes climáticos", como Blanc nomeia as geadas e as ondas de calor, têm feito estragos consideráveis na plantação mantida pela família.
A reportagem visitou os campos provençais no fim de junho. Fazia 37°C, temperatura extrema para a região, e a seca vinha desde maio. Resultado: plantações mais "peladas" que de costume.
De origem persa, a lavanda cresce naturalmente nas colinas da Provença e passou a ser cultivada no fim do século 19. O "turismo da lavanda", por sua vez, só surgiu mais de um século depois.
O cultivo sustenta centenas de famílias, que plantam para extrair óleo essencial e venda direta de flores. Entretanto, a área plantada está em constante declínio no país, que perdeu o posto de maior produtor mundial para a Bélgica.
Uma recente reportagem do canal de televisão France 3 afirmou que, nos últimos anos, os vastos campos de lavanda na Provença estão sendo substituídos por uma planta conhecida como "imortal" (Helichrysum italicum): amarela e com cheiro de curry, ela alcançaria melhores preços no mercado de plantas aromáticas.