As ladeiras sinuosas de Aguas Calientes, município incrustado entre a Cordilheira dos Andes e a Amazônia peruana, amanheceram estranhamente calmas naquele fim de agosto. À exceção do ir e vir dos persistentes mosquitos, o trabalho estava suspenso. Em vez do burburinho dos milhares de turistas, ouvia-se o marulhar do caudaloso rio Urubamba, que margeia a cidadezinha.
Na praça central o clima era outro. Uma multidão de hoteleiros, donos de restaurantes, guias turísticos e artesãos estava reunida para comunicar ao governo sua reivindicação: o aumento da capacidade de visitantes ao parque arqueológico de Machu Picchu, uma questão que vem abalando o Peru — definir qual é o número apropriado de acessos por dia à cidadela inca que, pouco a pouco, está afundando.
Era o quinto dia de greve do setor em menos de um mês. Dessa vez, as autoridades foram avisadas antes, o que permitiu o remanejamento dos trens e entradas para Machu Picchu, que são nominais e têm dia e hora marcados. Em 28 de julho, quando aconteceu o primeiro dos "paros" no município vizinho à cidadela inca, as coisas não transcorreram tão bem.
À época, os peruanos iniciavam suas "festas pátrias", homenagens à independência do país. O período coincide com as férias escolares e Aguas Calientes estava repleta de turistas ansiosos por conhecer a cidade perdida dos incas. Como muitos não compraram as entradas pela internet, uma imensa fila se formou em frente ao guichê do Ministério de Cultura.