Tem rúgbi em Mafalala. A prova de que o mundo virou uma aldeia global é o fato de uma modalidade dessas ter chegado a um bairro periférico como este.
Omar Alí, 26, é o mentor e "coach" da rapaziada do rúgbi dali de Mafalala. Os treinos acontecem às segundas e quartas-feiras.
O campo que acolhe a equipe não é o ideal. É pequeno e não tão plano como devia ser. Localizado no interior de Mafalala, é feito de terra batida. Para quem não tem medo de se superar, é o palco ideal.
A logística está a cargo de cada um. Falta-lhes um pouco de tudo, mas a garra e o foco, não. Omar é técnico dos rapazes há 7 anos. Além de dar expediente como treinador, atua como personal trainer e divide o seu dia a dia entre treinar o time e o pessoal do ginásio.
Em Maputo, há 5 clubes de rúgbi e o de Mafalala é um deles. Mas, ali no bairro, o esporte é um fato inédito, por certas razões.
O bairro já foi conhecido por reunir as maiores "bocas de fumo" da cidade de Maputo. Jovens, adolescentes e adultos já foram presos por consumir ou vender drogas ali, como suruma (maconha) e haxixe. Por algum tempo, mesmo que não tivessem essa vida, muitos eram vítimas de estigma e preconceito por residirem no bairro.
Hoje em dia, nem tanto. Omar diz que o clube que dirige é uma destas escolas da vida que forma homem novo e, por isso, muitos jovens refugiaram-se ali, para evitar o vício.
"A nossa iniciativa tem um significado mais profundo, o de resgatar jovens e proporcionar-lhes a melhor alternativa de vencer a vida", diz ele.
Mateus Chipanda, 22, é um dos integrantes do rúgbi de Mafalala. De calção branco e empunhando uma bola ao ar, disse que está orgulhoso do clube e da modalidade que escolheu. Ele prefere dizer — "que o bairro me ofereceu".
"Nunca consumi drogas, mas sei que as chances de ter caído nesta vida foram várias. Resisti e continuo resistindo a qualquer tipo de vício. Devo isso ao rúgbi do meu bairro", contou-nos Mateus.
O clube tem mais de 100 atletas e está aberto a qualquer jovem, residente ou não de Mafalala. Omar acredita na possibilidade do Mafalala Rugby Club ganhar mais almas e troféus — já são 10 até agora, todos em competições nacionais. Estão todos expostos no museu do bairro que sintetiza, como poucos, os sonhos e possibilidades de um país jovem e vibrante.