O choque das pessoas, a angústia de quem aguarda notícias, a revolta e o desespero de amigos e familiares, o trauma de sobreviventes e o show midiático estavam ali como estiveram em massacres anteriores. Mas, para o psicanalista Christian Dunker, o ataque de Suzano (SP) é diferente dos outros que aconteceram no Brasil. "O último fator que parece ser novo é quando temos um discurso social autorizando que a forma de tratar conflitos não é pela palavra, mas pela violência e pela eliminação do outro", afirma. Sua colega Fabiane Secches dá nomes. "Quando o discurso legitima o ódio e a intolerância, como é o caso de [Donald] Trump, de [Jair] Bolsonaro e de outros políticos e movimentos de extrema-direita, o pior de nós pode vir à tona. A violência se torna a linguagem vigente contra o outro e contra si", completa.
Violência enquanto forma preferencial de comunicação é o que move fóruns de perfis anônimos como os frequentados pelo australiano Brenton Tarrant, 28, que na sexta-feira matou 50 pessoas em duas mesquitas de Christchurch, na Nova Zelândia - ele citou o Brasil em seu manifesto de 73 páginas - e por Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25, autores do massacre na escola Raul Brasil, em Suzano, que mataram oito pessoas e feriram 11. Em ambos os casos, o terror foi celebrado na deep web, onde grupos de extrema-direita se manifestam na internet sem serem rastreados.