O desabafo feito só para amigas próximas ganhou força e, quando perceberam, muitas mães estavam falando em coro sobre o lado B da maternidade. Tudo aquilo que a propaganda de fraldas não mostra, que as mulheres ignoram quando sonham em ter filhos, que não aparece no álbum de família. Uma rotina pesada, que faz mães insones alucinarem de cansaço (os relatos incluem naves espaciais), que traz questionamentos sobre o prometido amor incondicional aos filhos, que as põem sentadas em definitivo no banco dos réus, que causa tanta dor nos seios a ponto de desejarem o secamento do leite. É tabu. Mas precisamos falar sobre essas mães e, mais importante, ouvir o que elas têm a dizer.
A discussão pulou o cercadinho com ajuda do movimento feminista, em que mulheres questionam mais seus deveres e brigam mais pelos direitos. Se algo não está legal, elas querem - e vão - falar sobre isso. Foi assim com a violência doméstica, com as diferenças salariais e com cantadas nas ruas, para citar exemplos recentes. No caso da maternidade, a maioria das mães se mostra realizada. Esse grupo tira tudo de letra e planeja o aumento da prole. Mas também tem gente disposta a escancarar sua insatisfação - um grupo que sempre existiu, mas ganhou força ao se juntar e levantar a voz, principalmente na internet.
Muitas veem a necessidade de se explicar e, para isso, adotam uma espécie de mantra: “detesto ser mãe, mas amo o meu filho”. Com ênfase no “mas”, para dar uma aliviada. Frases desse tipo não tratam de arrependimento ou falta de cuidados. Ainda assim, colocam suas autoras na mira de ataques. Alguns já vêm com o diagnóstico de depressão pós-parto (tema importante, mas que vai além da insatisfação aqui abordada). Tem quem classifique tudo como mimimi, as chame de ingratas, condene a falta de contracepção. E quem, genuinamente, não conceba a ligação entre a maternidade e sentimentos negativos.
A julgar pelo início da discussão, será um parto para essas mulheres se fazerem entender.