O LABIRINTO DE MINOTAURO

A noite de pegação intensa de um ator pornô num clube de sexo no centro de SP

Mateus Araújo (texto) e André Nery (fotos) Do TAB, em São Paulo

A mão tateava o abdômen alheio, conferindo cada pedaço de corpo lambuzado por óleo hidratante. Com carinho safado, escorregou pelas lombadinhas musculosas, do tórax à pelve, até os dedos alcançarem e fisgarem sem dó o volume vigoroso e nada discreto prensado numa sunga vermelha minúscula. Como era quase impossível enxergar qualquer coisa naquele lugar escuro e quente, a regra era ver com a mão.

"Ei, calma. Agora não", reprimiu o apalpado, parando a festa de alguém. Nem sequer via o rosto.

Dentro do labirinto estreito e cheio de portinhas, vários corpos se espremiam transando. Vinha de uma delas a tal mão anônima, que, enquanto avaliava o dote pelo tato, ocupava a boca em outra atividade. Ela só parou quando ouviu aquela voz dizer "depois você pega, tô fazendo foto agora". "Minotauro!", sussurrou, então, admirado, o dono da mão.

No aniversário de três anos do clube de sexo Dédalos, na região do largo do Arouche, no centro de São Paulo, Minotauro fora anunciado como "presente especial" para os clientes.

Modelo e garoto de programa carioca de 28 anos que faz sucesso na internet com conteúdo pornô, ele era a grande atração do primeiro dos três dias de festa organizada pela casa: à noite, seria colocado seminu entre os corredores por onde circulam dezenas de homens em busca de prazer.

"Minotauro, deixa eu pegar no teu pau?", insistia outro curioso.

1,76 M, 82 KG, 22 CM

Na mitologia grega, Minotauro — criatura com cabeça de touro e corpo de homem — vivia trancado num labirinto construído por Dédalo, em Creta, para onde eram levados, de tempos em tempos, sete homens e sete mulheres para serem devorados pelo bicho. Os 14 sacrificados eram tributos atenienses ao rei Minos.

Numa dessas levas, o jovem Teseu se ofereceu para enfrentar o temido monstro. E conseguiu entrar, com a ajuda da apaixonada princesa Ariadne, carregando uma espada e um novelo. Assim venceu Minotauro e ainda achou o caminho de volta.

O mito virou a deixa para prenderem Minotauro, o carioca, no labirinto do sexo — neste caso, era ele a oferenda. "Mas meu nome não tem a ver com a mitologia. É que começaram a me chamar assim porque diziam que eu pareço com o Minotauro do UFC", ponderava o modelo corpulento de 1,76 m, 82 kg, olhos verdes, braços fortes, peitos lisos e largos, coxas grossas e peludas.

DE GO-GO BOY A ESCORT BRASILEIRO

Apesar da musculatura que faz lembrar um lutador, é o monochifre inferior do rapaz do Arpoador que o leva a ganhar por mês cerca de R$ 54 mil com fotos e vídeos amadores publicados no OnlyFans, onde tem mais de 1.700 assinantes.

Torto para cima e pendente para a direita, seus quase 22 centímetros de anatomia incomum, diz ele, despertam curiosidade e fetiche. "O pessoal, geralmente, tem o pinto para a esquerda", se orgulha, passando levemente a mão sobre o membro destro. "Às vezes, varia meio centímetro para mais ou para menos", completa, antes de se interromper e jogar a curiosidade para o fotógrafo: "O seu também é assim?"

Minotauro começou a fazer programa aos 17 anos. Foi descoberto por uma olheira que caçava jovens pelas redes sociais para servirem de atração de boates no Rio de Janeiro. Foi "go-go boy", até receber as primeiras propostas de programa. Acompanhante de luxo, atende a homens e mulheres de idades variadas. "Não sou gay, não sou bi. Gosto de pessoas", afirma. "Mas não gosto de relacionamento. Com a profissão que tenho, prefiro estar só."

Na primeira oportunidade que teve, depois de morar em São Paulo por alguns meses, Minotauro foi embora do país. Em 2012, se mudou para a Espanha e depois passou pela Alemanha, pela França e pelo Reino Unido. A carreira de "escort brasileiro" no exterior, como ele se refere à profissão de garoto de programa, lhe garantiu renda para ter quatro apartamentos no Rio e uma vida de luxo, além da fama.

'SEI NEM SE VOU GOZAR'

Quando Minotauro chegou ao Dédalos, já chamou atenção. Apesar da noite fria, decidiu vestir uma camisa de malha estampada, desabotoada. Dois rapazes mais ousados meteram-lhe logo a mão no peito à mostra, alisando-o, para cumprimentá-lo. "Todo mundo da fila ficou me olhando", gabava-se. "Só quem não me reconheceu foi o segurança", acrescentou, brincando.

Trancado num almoxarifado que virou um camarim provisório, ele tomava um copo de energético para se manter animado, enquanto conversava com TAB. Outros dois homens musculosos se imprensavam no canto da sala trocando de roupa. Vestiam-se de bombeiro para, na pista de dança, servir doses generosas de tequila direto na boca dos clientes. "No início de carreira, eu fazia isso também", comentava Minotauro.

Tratado como estrela da festa, o modelo carioca não dormia havia duas noites. "Tô virado", ria. Ele chegara a São Paulo um mês antes, a convite de casas noturnas. Estendeu a hospedagem para fazer programas e participar do evento no clube. "Hoje fui contratado só para aparição. Podem até passar a mão, e tal, mas sem sexo. Não sei nem se vou gozar", contava.

De uma mochila preta, o modelo tirou o figurino: uma pequeníssima sunga vermelha, um par de botas pretas e meias brancas. Trocou-se num banheiro ao lado, com a porta aberta, à vista de alguns curiosos que tentavam espreitar.

FINAL FELIZ

Às 10h da noite, um funcionário procurou Minotauro na salinha para levá-lo ao palco. Ofereceu Viagra, mas ele recusou. Ele, que estava relaxado, instantaneamente acordou: foi ganhando mais tamanho dentro da roupa.

No caminho pelo bar, no térreo, o modelo foi abordado por um rapaz franzino, que o segurou pelo braço. "Eu amo as mensagens que você posta no Instagram. Me sinto como um irmão", confessou, pedindo para tirar uma foto.

Sob olhar atento dos outros homens, e ouvindo cantadas do público mais soltinho, o modelo foi colocado em uma passarela no primeiro andar — uma espécie de curral com as laterais livres para circulação de pessoas. Àquela altura, o ambiente estava abarrotado de gente.

Uma luz vermelha piscante deixou tudo mais visível. Ao fundo, a tela de uma TV exibindo a empolgação de um casal também ajudava na iluminação. Imediatamente, a plateia de cerca de 40 pessoas começou a esfregar as mãos em Minotauro. A primeira a romper com a timidez entrou por baixo da sunga e agarrou um lado da bunda dele, deixando à mostra o contraste da marca de bronze. Eram, de repente, muitas outras mãos, em movimentos descompassados.

A certa altura, não se via direito Minotauro da cintura para baixo. Uns sussurros se misturavam ao som de música ambiente, e alguns homens, mais afastados, observavam a cena com prazer. Um casal se agarrava no canto de duas paredes, assistindo àquilo como se participasse da festa.

Depois de quase 30 minutos, o ator levantou uma das duas mãos e segurou a parede no teto. Com a outra, empurrou uma cabeça com força contra ele mesmo, e a pressionou. Minotauro curvou o pescoço para trás, e repetia frases que não se ouvia, até ele mesmo relaxar, sorrindo.

Sem espada que vencesse o touro nem novelo que arrancasse alguém dali de dentro, aquela virou uma noite para ninguém esquecer da força do homem preso no labirinto.

Topo