É outono na Europa e, por volta das 18h15, o sol se põe na península de Halkidiki, no norte da Grécia, onde Pietari Varpula, um jovem finlandês de 28 anos, voltava de uma caminhada nos arredores do monastério de Xenophontos. Era o quinto dia de sua vigília: de óculos e barbas já longas, ele abandonou um passado ateu e anarquista e se converteu ao cristianismo ortodoxo. Também deixou para trás família e amigos para passar uma temporada no alto do Monte Athos, a capital espiritual da Igreja Ortodoxa, a fim de descobrir se deve se tornar um monge, uma decisão que ele atribui à vontade de Deus.
"Tenho quase certeza de que esse será meu destino", disse ele, sentado nas escadas em frente à igreja. "Já deixei tudo para trás, vai ser muito difícil encontrar algo assim por outros lados. Nunca vou ter uma vida tão intensa como aqui", acrescentou. "Se Deus assim quiser" e ele for aceito pelos patriarcas e aprender o grego que já arranha para acompanhar as liturgias, Varpula poderia ficar para sempre no Athos — e ajudar a rejuvenescer a comunidade de cerca de 2.000 monges, cuja média de idade hoje está estimada entre 45 e 55 anos.
O conterrâneo Federico Mata, 34, não precisou deixar de vez a Finlândia (onde apenas 1% da população se declara ortodoxa). Diácono desde 2015, posição abaixo de padres e bispos na hierarquia, casado e pai de quatro filhos, ele se divide entre o voluntariado nos monastérios do Athos e uma empresa de pisos de madeira que gerencia, a cerca de 20 km da capital finlandesa, Helsinki.
"É como se eu tivesse duas famílias", relatou ele, que vê no trabalho religioso junto a outros membros da comunidade (principalmente gregos, búlgaros, georgianos, romenos, russos e sérvios) uma oportunidade de "aprender a ser um pai melhor". "Limpar os banheiros, varrer o chão, esses são os verdadeiros valores da teologia. É aprender da vida sem se preocupar tanto."
Mata deixa de ver a mulher nas suas temporadas no Athos, incursões de quinze dias. "Ela fica triste de não poder vir aqui, mas entende as razões."
As razões não são tão simples: a presença de mulheres é terminantemente proibida ali a fim de evitar "tentações", desde que os primeiros monges (do grego "mono", que quer dizer "sozinho") se instalaram no monte, no século 9. Nem animais fêmeas podem entrar no território — exceto gatas, para caçar ratos.