Um grupo de seis pessoas assiste a um culto em um templo sem paredes. A vista é panorâmica: do alto, veem-se as casas das comunidades do Irajá, bairro da zona norte do Rio. De minuto em minuto, levantam-se para dar aleluia. De um altar feito de concreto e púlpito de mesmo material, pintado com o nome "Jesus", uma mulher prega. Usa vestido e coque na cabeça, lê a Bíblia e orienta os fiéis a orarem pelas vítimas das chuvas.
Entre um conselho e outro, Vera Lúcia Santiago, 34, fala em línguas estranhas. No altar há mais de cem fotos, roupas, nomes escritos em um caderno e um sabonete.
A "Campanha dos Gigantes" acontece todas as sextas-feiras, há dois anos. Vera conversa e ora "por suas ovelhas". Há três anos, conta ter recebido um chamado divino para estar à frente de uma igreja dentro de sua casa e pregar nos montes.
Sua vida religiosa começou a partir do que considera um milagre. Depois de cinco anos tentando engravidar, Vera pediu ajuda a Deus. Hoje é mãe de uma menina de 13 anos.
A visita ao Monte Escada de Jacó começou há quatro anos, quando Vera frequentava a Assembleia de Deus de São Cristóvão. Logo de cara, sentiu o "coração ferver", como conta. Depois disso, não parou mais.
Em um sábado, subiu para orar sozinha. Fechou os olhos e, quando abriu, havia dez pessoas ao redor. Na semana seguinte, 20. Recebeu então, pela boca de um profeta — cristão a quem são revelados milagres —, a missão de fazer a campanha dos sabonetes. Os fiéis levam as barras para serem abençoadas e as usam depois no banho para purificação e milagres.
O "Escada de Jacó" ganhou esse nome há pouco tempo. É um morro colado ao metrô. Desde 2010, é frequentado por evangélicos de diferentes doutrinas e suas pedras são locais de oração, mas nem sempre foi assim. Antes, o local era tomado por um matagal e usado para desova de matadores de aluguel e traficantes. Os frequentadores contam que um grupo de moradores decidiu cortar o matagal e tirar o lixo acumulado, depois de não terem respostas do Estado para limpar o local. Não demorou muito e evangélicos começaram a frequentá-lo para orar. Eles o mantêm limpo.