Num domingo nublado de agosto, Renata Frisson ficava nua ao som de Beyoncé e R&B. Sensual e lentamente, tirava a calcinha fio-dental e o sutiã, sem pudor e com total domínio do corpo, em mais um dia de gravações para seu canal no OnlyFans.

Ela domina tudo ali: rebola, troca olhares com a câmera, toca-se nas partes íntimas, apalpa os seios e, quase sempre, fica inteiramente nua, à vontade. Dessa vez, a modelo escolheu gravar em uma mansão alugada num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.

É Renata quem define as locações e os looks de cada ensaio, pensando em dar um tom intimista e, ao mesmo tempo, natural para as produções. Ela já gravou na varanda de um resort no México, em um kartódromo da Barra e em uma laje da favela do Cantagalo, na zona sul.

Fez jus ao sobrenome, causou frisson. Moradores, transeuntes e turistas pararam para assistir ao show de nudez. No kartódromo, filmou nas pistas, fazendo fiéis e pastores da igreja evangélica vizinha se aglomerarem na janela. "Foi um caos! Desvirtuei os irmãos!", diverte-se ela, que ainda sonha conseguir autorizações para filmar no metrô do Rio e no bondinho do Pão de Açúcar.

A casa na Barra era espaçosa e iluminada, o que dava um ar informal e intimista ao set. Num dos quartos foi montado um tipo de camarim, onde a equipe (um trio, cinegrafista, fotógrafo e maquiador) preparou a modelo, uma mulher curvilínea de 1,63 m e 55 kg, abdômen trincado, bumbum empinado, peitos turbinados e jet bronze caprichado para deixar o corpo dourado para as câmeras.

"Meu corpo é meu trabalho", diz ela, que recentemente reduziu as próteses de silicone (de 500 ml para 360 ml em cada seio), fez lipoaspiração e diversos procedimentos estéticos e dermatológicos.

Além de malhar todo dia, principalmente perna e bumbum, segue à risca a dieta composta por chás, cuscuz, frutas e tapiocas - nada de pão. Depois de todo treino, toma um chimarrão, que serve como diurético.

"Meu café da manhã é uma ameixa ou um mamão", conta a modelo, que por muito tempo foi conhecida por um apelido de fruta: Mulher Melão.

Entre 2000 e 2010, uma dúzia de "mulheres frutas" invadiram o funk e alcançaram a fama dançando e cantando Brasil afora. Elas viviam com as agendas lotadas de shows, posavam para fotos sensuais em revistas masculinas e intercalavam participações em programas de auditório e reality shows.

O tempo passou e elas, talvez mais maduras, foram deixando os holofotes. Uma das precursoras da safra, Andressa Soares (Mulher Melancia) ficou famosa em 2006, após uma parceria com o MC Créu, aquele das cinco velocidades no rebolado e os versos: "Pra dançar créu / tem que ter disposição / Pra dançar créu / tem que ter habilidade".

Andressa também gravou músicas, emplacou hits e foi capa de edições da revista Playboy. Hoje, aos 34 anos, é casada com o jogador de futebol Michel Macedo e mãe de um menino. Mora no Nordeste com a família, abriu uma butique e, embora discreta, possui mais de 1,7 milhão de seguidores no perfil @mulhermelanciaoficial no Instagram.

A bailarina Ellen Cardoso (Mulher Moranguinho) foi escolhida para substituir a Mulher Melancia ao lado de MC Créu, em 2008.

Também ficou famosa e posou para revistas, mas abandonou o título, virou evangélica e se casou com o cantor Naldo Benny, com quem teve uma filha. O casamento ficou marcado por confusões e, em 2017, Naldo foi denunciado e detido por agressão. Ellen retirou a denúncia, o casal voltou e, em 2020, renovou os votos de casamento em Roma. Hoje, trabalha como influenciadora digital, mostrando a rotina da família — e está no elenco do reality show "A Fazenda".

Após o boom das frutas, Suélem Cury (Mulher Pêra) se candidatou a vereadora por São Paulo, em 2012. Na campanha apelou para as fotos sensuais, mas o resultado foi um fiasco (filiada ao PT do B, ela recebeu cerca de 2 mil votos). Atualmente casada com um empresário, acabou de ter um bebê e, no Instagram, tornou-se influenciadora digital.

Uma das mais badaladas da época, Renata Frisson (Mulher Melão) conseguiu manter a fama. Anonimato não é para ela, que diz que está "na faixa dos 30", solteira e vivendo intensamente a nova carreira virtual. "Nunca fui amiga das outras 'frutas', a relação ali era somente comercial. Sei que elas optaram por casar e levar uma vida mais discreta e anônima."

Renata também é cristã, mas diz que "crente de roupão" não é a onda dela. "Essa coisa de se cegar com a religião não dá. Não poder usar maquiagem, só poder usar burca, vestido comprido não é pra mim."

Nascida em Balneário Camboriú (SC), Renata começou a carreira no Rio de Janeiro, durante o Carnaval. No início dos anos 2000, desfilou pela escola Lins Imperial, agremiação do Grupo de Acesso carioca. Sua foto saiu nos jornais e seus seios logo chamaram a atenção pelo tamanho. Foi aí que o jornalista Tino Júnior, da Beat98 FM, hoje na TV Record, criou o apelido Mulher Melão. E ela gostou.

"Já comecei pelada", conta. Em 2008, desfilou pela Vila Isabel ("meus peitos eram enormes e roubaram a cena, mesmo eu sendo composição de carro alegórico", lembra). Depois de passar pelo grupo especial na Sapucaí, começou a fazer shows como Mulher Melão. Em 2012, foi capa da Playboy. Em 2016 e 2017, da Sexy.

"Ela tem liberdade para fazer o que quiser. É dona de si. É o tipo de mulher que escolhe, em vez de ser escolhida", diz a empresária Ana Paula Larry, conhecida como "Kim Kardashian do samba", por sua semelhança física (bumbum grande, cintura fina, cabelos pretos lisos e longos) com a celebridade norte-americana.

Amigas há 13 anos, Ana convidou Renata para ser a atração musical do aniversário de dez anos de um de seus filhos. Ela cantou o hit da época, "Você Quer" ("Eu sou a Mulher Melão / O meu ritmo é assim / Paga pra mim, paga pra mim"). "Bombou e fiz muitos shows em festas de aniversário Brasil afora. Cheguei a dormir no chão do aeroporto", lembra.

Até 2020, Renata dividia a agenda entre shows e participações em eventos, sempre como Mulher Melão. Com a pandemia, ela se viu sem nenhum trabalho e renda. De uma hora para outra, precisou se reinventar. Resolveu apostar no OnlyFans — e não entrou para brincar.

Inscrita na plataforma adulta desde abril de 2021, @melaooficial se tornou o perfil brasileiro recordista de assinaturas: já são mais de 215 mil inscritos que recebem, diariamente, vídeos e fotos sensuais inéditas da funkeira. A assinatura custa US$ 6,99 (R$ 36), mas o número de assinantes varia mês a mês — às vezes, o rendimento pode chegar à casa dos milhões de reais.

Até agora, um dos campeões de audiência foi o vídeo da varanda de hotel no México, em que Renata estava de biquíni cavado, sombreiro, tomando tequila.

Na sexta-feira anterior ao ensaio na mansão da Barra, Renata foi dormir às 6h40. Passou a madrugada toda interagindo com os fãs, os assinantes do OnlyFans. No dia, ela tinha lançado um desafio para seus seguidores, o que, segundo ela, lhe rendeu mais de US$ 4.000 (R$ 20,5 mil) em 48 horas.

Num desafio, os fãs dizem o que eles querem ver e, para apimentar seu canal, ela faz ao vivo, sem pudor. Desta vez, por exemplo, pediram que ela tirasse a calcinha enquanto jantava em um restaurante. Em outra ocasião, pediram que ela mostrasse os seios, durante o treino na academia. "Eles gostam de coisas mais ousadas e eu entro na onda deles", conta.

"Gosto do que faço e me dedico", relata ela, que leva o trabalho a sério e credita seu sucesso às interações com os fãs. É a própria funkeira (e não um "adm") quem dialoga diretamente com os seguidores, majoritariamente homens. Segundo sua experiência, eles gostam da espontaneidade.

De vídeos mais amadores, também. Recentemente, ela gravou um conversando diretamente com a audiência, ela mesma filmando, usando camisola vermelha transparente e deitada na cama do quarto de hóspedes de seu apartamento. Fãs foram ao delírio. "Meus assinantes adoram algo mais íntimo."

Renata prefere fotos com pouco retoque e pouca maquiagem. "Reforço o olhar dela, que é o mais importante. Os olhos com destaque e o brilho neles é fundamental", conta o maquiador Rodrigo Franco, parceiro das antigas da Mulher Melão. Em nome da naturalidade, gravou vídeos recém-operada, usando sutiã cirúrgico. "Estava toda roxa e optei por mostrar. Os homens gostam de ver o real."

No domingo, ela espalhou lingeries, acessórios, botas de cano alto e sapatos na cama, no camarim improvisado. Escolheu primeiro um conjuntinho branco, de babados e corações vermelhos, e uma sandália de tiras finas para começar a sessão.

No jardim interno da casa, posicionou um urso de pelúcia gigante. Em poucos segundos, Renata já interagia com o brinquedo, roçava na pelúcia e sentava no "colo" do bicho, abrindo-lhe as pernas e fazendo olhares sedutores para a câmera.

No segundo look, com um rabinho pompom branco e orelhas de coelhinha, escolheu um cantinho "zen" da mansão para deitar sensualmente na escada e até molhar o bumbum em uma das fontes de água. Ela não precisa de diretores: cada vídeo vai ao ar com 3 a 5 minutos e, nos bastidores, ela não demora muito mais que isso para gravar — sabe exatamente o que fazer e é objetiva.

Moradora de um condomínio na Barra, Renata já quitou o apartamento e comprou um carro zero quilômetro com os frutos do OnlyFans. Também investe em procedimentos estéticos e aumenta o closet com lingeries e sapatos. Tenta separar uma parte para investimentos, afinal, nunca se sabe o futuro. O passado ela não nega; dele se orgulha. "Foi a Mulher Melão quem me trouxe até aqui."