A primeira mulher a lutar pelo Brasil precisou se disfarçar de homem.
“Maria Quitéria era baiana arretada”, brinca a primeiro-tenente Paola de Carvalho Andrade, 38. “Durante a Guerra da Independência, em 1823, ela fugiu de casa, cortou os cabelos e se alistou no Exército como soldado Medeiros. Descobriram o disfarce duas semanas depois, mas ela ficou e foi a primeira mulher a ser combatente do Exército. Mas porque era boa, disciplinada. Entenderam?”, completou a primeiro-tenente.
A oficial manda o “bizu” - gíria militar para “dica” -, numa conversa informal com quatro alunas da EsPCEx (Escola Preparatória de Cadetes do Exército), em Campinas (SP). Quase 200 anos depois da saga de Maria Quitéria, as soldados Cecília, Cíntia, Beatriz e Andrea escutam o relato sentadas com as costas eretas, uma postura adquirida em menos de dois meses de vida militar. Elas tentam ficar sérias perante a oficial, mas os sorrisos e brilho nos olhos entregam o orgulho que elas sentem de Maria Quitéria e, por que não, delas mesmas.
As quatro jovens estão entre as primeiras 40 mulheres que terão a chance de se tornar, oficialmente, combatentes do Exército. Se Maria Quitéria precisou fingir que era homem, essas meninas precisaram se destacar para conseguir uma vaga na EsPCEx, única porta de entrada da linha bélica. E daqui a 30 ou 35 anos poderão chegar à patente de general, a mais alta da corporação e que, até 2017, era uma ambição reservada aos homens.