Nelson Teich estava em sua casa na Barra da Tijuca quando recebeu um telefonema. O general Luiz Eduardo Ramos, então ministro-chefe da Casa Civil, o convidava para ir a Brasília conversar com Jair Bolsonaro. Era 15 de abril de 2020, noite no Rio de Janeiro, e o Brasil vivia um período de trevas.
Na manhã seguinte, o oncologista vestiu um blazer simples e partiu com sua mulher para o aeroporto, onde jornalistas já o aguardavam. O país contabilizou, naquele dia, 188 mortes oficiais por covid-19 — era o começo da escalada que culminaria em 3.000 mortes diárias, exatamente um ano mais tarde.
O papo amigável com o presidente durou uma hora — o assunto cloroquina não foi sequer mencionado. Horas depois de as panelas baterem contra Bolsonaro, durante a fala que confirmava a demissão de Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich foi anunciado como o novo ministro da Saúde. Entre a ligação telefônica de Ramos e o anúncio se passaram menos de 24 horas.
O oncologista tomou posse num dos momentos mais tensos da pandemia. Mas Marylene Rocha de Sousa, 55, chefe de assessoria de cerimonial e produção de eventos do Ministério da Saúde desde os anos Collor, lembra que Teich tinha um ar tranquilo em Brasília.
No dia seguinte à posse, o carioca desmarcou todas as entrevistas da pasta — era costume a equipe de Mandetta aparecer diariamente na TV, à tarde, para falar da pandemia. A primeira coletiva de Teich foi dada apenas em 22 de abril, data da fatídica reunião ministerial com Bolsonaro.
Com dez dias à frente da Saúde, a imprensa avaliou a gestão de Teich como "de pouca ação". A ação veio em 14 de maio, quando o presidente exigiu do ministro a inclusão da cloroquina no protocolo de tratamento da covid-19. Sua saída foi anunciada dia 15. "Não me arrependo de jeito nenhum. É aquela história: você só sabe como é quando está lá dentro."
Nelson Teich foi um dos ministros da Saúde de estadia mais curta no Planalto. Foram apenas 29 dias. "Foi o suficiente para perceber se eu ia entregar [melhorias na Saúde] ou não", diz à reportagem. "O presidente foi escolhido pelo povo. Quem tem que se adaptar é quem está com ele."