Daniel Santos, quando criança, vivia admirando a vista do Pico do Jaraguá pela janela. Curioso, perguntava o que teria ali no meio daquele mato. Olhava e achava fascinante. Diziam que o lugar era protegido por indígenas.
Hoje, aos 35 anos de idade, Daniel vê da janela de casa um muro vazio. É sua vista sagrada. Há tempos fica namorando a parede, pensando no que pode pintar ali. Além do muro, que limita o espaço de uma cozinha comunitária, ele observa a casa de reza.
O Daniel adulto vive no mesmo Pico do Jaraguá que admirava quando criança, em Barueri, cidade onde cresceu. Há dois anos e meio, ele deixou tudo para trás, fechou seu estúdio de tatuagem e foi viver com os indígenas da etnia Guarani Mbya na parte de trás do pico. Ita, em guarani, significa pedra, e kupe, costas. Daniel deu as costas para a selva de pedra e recomeçou sua vida na Tekoa Itakupe.
A aldeia é uma das menores entre as seis que circundam o ponto mais alto da cidade de São Paulo, um dos últimos locais onde resiste um naco de Mata Atlântica. A missão de seus habitantes é preservar o que resta do bioma e impedir a devastação. Daniel decidiu mudar radicalmente para lutar ao lado dos indígenas.