"Quem é da periferia, de ocupação, sabe: quando você cresce com o fiscal da prefeitura roubando material de construção, falando que vai te multar, você acha que a política é uma coisa muito ruim", diz a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) ao falar da necessidade de mudar a percepção da população e mostrar que a política é algo bom, sim.
Desde as eleições de 2018, duas palavras têm marcado presença quando o assunto é o governo do presidente Jair Bolsonaro, a renovação recorde do Congresso ou a atuação de deputados estreantes, com suas lives constantes nas redes sociais: "nova política". Mas a expressão ganha outro sentido quando observamos um grupo relativamente pequeno que vai na contramão desses exemplos: jovens deputadas, muitas delas negras, em grande parte identificadas com ideais feministas e igualitários, que estão hackeando o sistema político com propostas inovadoras.
São nomes como o da própria Tabata, das deputadas federais Áurea Carolina (PSOL-MG), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Fernanda Melchionna (PSOL-RS), das estaduais Erica Malunguinho (PSOL-SP) e Mônica Francisco (PSOL-RJ), e grupos como Bancada Ativista (PSOL-SP) e Juntas (PSOL-PE), que têm atuado a partir de duas ideias principais: dividir o poder de forma coletiva e aproximar população e política.
Esses ideais aparecem nas práticas de uma nova geração, mas já estão presentes na própria origem e trajetória dessas mulheres. Áurea Carolina, 35, por exemplo, teve na cultura hip hop sua primeira experiência de participação política e nunca integrou movimentos sociais tradicionais antes de se tornar a vereadora mais votada de Belo Horizonte em 2016. Talíria Petrone, 34, é professora de história e iniciou sua trajetória de ativismo dando aulas em um cursinho popular no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, antes de se eleger em primeiro lugar para a Câmara de Vereadores de Niterói. Tabata Amaral, 25, nasceu na periferia de São Paulo e se engajou na luta pela educação depois de estudar ciência política.
Elas têm ocupado posições na liderança de seus partidos e espaços importantes - como a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, a mais importante da Câmara, na qual Talíria representa o PSOL. Tudo isso apesar de estarem longe do perfil médio dos políticos e, é claro, por suas propostas.