"Brasília é um paraíso de lobistas", disse o presidente Jair Bolsonaro (PL), ao se defender das acusações de corrupção na compra de vacinas contra covid-19 pelo Ministério da Saúde. "Tudo o que é de ruim no Brasil vai para Brasília, fazer lobby e tirar proveito", reclamou, em julho de 2021, no auge da CPI da Covid. Poucos minutos depois da declaração do chefe do Executivo, mensagens começaram a pipocar nos celulares de Carolina, Eduardo, Kathleen e Anderson.
Na capital federal, os quatro jovens estão na linha de frente contra o que consideram "estigma" do lobby — que, desde 2018, consta no Cadastro Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho como "relações institucionais e governamentais". Nos corredores de Brasília, o termo é conhecido pela sigla RIG ou pela abreviação "relgov". Aquela tarde de julho não foi a única vez em que ficaram agitadíssimos.
Em março de 2022, com a revelação do gabinete paralelo de religiosos que se instalou no Ministério da Educação, caso que derrubou o então ministro Milton Ribeiro, eles também se indignaram nos grupos de mensagens, desta vez com a imprensa que se referiu ao episódio como escândalo dos "pastores lobistas".
"Não sei o que os pastores estavam fazendo, não tive acesso aos autos, mas claramente não era lobby", diz Carolina Venuto, 36, desde 2020 presidente da Abrig (Associação Brasileira de Relações Institucionais Governamentais), maior entidade de profissionais da área no país. "É desinformação definir o lobby como crime e o lobista como criminoso", acrescenta Eduardo Galvão, 40, que comanda a Pensar RelGov, outra organização que reúne profissionais em Brasília.
Lobistas atuaram nas negociações das vacinas e, diversas vezes, batem nas portas dos ministros. A questão, segundo especialistas, são os "maus lobistas" que descambam para a corrupção pura: um dos pastores investigados, por exemplo, teria cobrado R$ 15 mil e 1kg de ouro para influenciar o Ministério da Educação a liberar recursos para uma prefeitura do Maranhão.
Persiste uma imagem do lobby associada a "maletas de dinheiro", critica Kathleen Oliveira, 25, do Comitê Jovem RIG, braço da Abrig, que busca aproximar estudantes e a entidade. "Está melhorando, mas ainda estamos nesse processo de desmistificação", diz Anderson Dias, 27, que também comanda o comitê. Desmistificar, no caso, quer dizer tirar a pecha de corrupto. "Toda profissão tem pessoas ruins."