DESLIZES DO PRAZER

Repórter participa de curso de nuru, a massagem japonesa totalmente lubrificada que é melhor do que sexo

Rodrigo Bertolotto Do TAB, em Itanhaém (SP)

Ela senta na minha bunda, e seus pelos pubianos começam a pincelar lentamente minhas costas. Depois, joga o peso do seu corpo sobre meu dorso. A pressão dá prazer. Começa a se esfregar. O calor dá aconchego. O sufoco me faz ofegar. Logo ela se ergue. Os bicos dos seios passeiam por ombro, nuca e orelha. Tudo isso com os dois lubrificados, dos pés à cabeça.

Nuru significa escorregadio em japonês, e uma massagem com esse nome surgiu no arquipélago na década de 1950. Ela acabou se globalizando nos últimos anos, como subgênero em sites de vídeos pornôs. Hoje, a técnica besuntada virou preliminar oferecida por garotas de programa. E penetrou também no nicho do neotantra, adaptação ocidental de tradições vindas da Ásia.

"Uso tudo o que funcionou nos seis anos em que estou aprendendo e experimentando. Ainda vou escrever os textos sagrados que daqui a 100 anos serão consultados", brinca a terapeuta Mari Roman, que mistura reflexologia taoísta e massagem tântrica com nuru. É ela quem aparece nas fotos desta reportagem, junto a assistentes e adeptos. Além do atendimento particular, ela dá cursos ensinando as manobras, noções de biossegurança e como lidar com assédio.

A psicóloga Ana Fraga usa esse saber para azeitar relacionamentos conjugais na vivência que batizou de Nuru Bliss. "É um laboratório sensorial. Temos que desmistificar a nuru, porque ela chegou ao Brasil pela pornografia, de uma forma marginalizada. Seu primeiro nome aqui era até massagem tailandesa. Mas tem muita potência para ampliar a consciência das pessoas", afirma Fraga.

AS BOLHAS DE MERCADO

Junto com o tango argentino, o cuscuz marroquino e a sauna finlandesa, a massagem tailandesa está na longa lista de patrimônios intangíveis da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Mas a técnica tradicional, cheia de alongamentos e completamente vestida e pudica, ganhou versões libidinosas à medida que a nação do Sudeste Asiático virou destino de turismo sexual.

Hoje no Brasil, casas de massagem de todos os tipos oferecem um menu com massagens tailandesa, nuru e tântrica, com diferentes preços e possibilidades de combos. Em geral, a tailandesa é aquela feita só com os seios, enquanto na nuru se utiliza o corpo todo de quem atende.

O curioso é que uma lei forçou o surgimento da nuru. A prostituição foi proibida no Japão nos anos 1950, mas logo surgiram formas de driblar a restrição, como locais em que garotas lavavam e massageavam homens (para depois oferecer sexo pago, claro).

Chamavam-se toruko buro (banho turco), até que sua popularização fez a embaixada da Turquia se queixar às autoridades nipônicas. Em dezembro de 1984, a Associação de Banhos Especiais, após uma eleição entre seus integrantes, anunciou que o novo nome era soapland (terra do sabão) — muitos dos membros acharam o título muito infantil e preferiam romance bath.

Apesar do nome em inglês, os estrangeiros não eram muito bem-vindos por ali. Porém, a partir de 2017 surgiram as casas especializadas para turistas. Antes muitas massagistas se recusavam a atendê-los, seja por problemas de comunicação, seja pela higiene — elas apertavam o nariz com os dedos para sinalizar a insatisfação.

A sessão inclui molhar, ensaboar, enxaguar e secar. Depois da ducha, a garota goteja o sabonete líquido sobre o cliente deitado num colchão inflável e transforma seu corpo em uma esponja, se esfregando no meio da espuma. A secagem também é sensualizada. Na sequência, vem a massagem nuru, que utiliza originalmente um gel que contém duas algas como ingredientes para deixá-lo bem lúbrico. O final feliz (e proibido) fica a critério do cliente.

MISTÉRIOS GOZOSOS

A vizinhança caiçara nem desconfia que por trás das cercas elétricas, das cortinas, dos botões, das peles e das carnes é o prazer que guia 20 aprendizes. O bairro Cibratel 2, em Itanhaém (litoral sul paulista), é pontilhado por aquelas típicas casas com golfinhos e siris desenhados no portão, anões no jardim e piscinas precisando de reforma. Em uma delas, em especial, as pessoas estão mais interessadas na movimentação nos colchonetes do que na praia, mesmo em fim de semana ensolarado.

O ambiente é constantemente perfumado. Além dos incensos de alecrim e dos sprays de alfazema, os alunos tomam banho antes e depois das práticas. Mas, quando aparece o cheiro do talco, uma sensação de deleite vem pelo ar. O pó finíssimo ajuda no toque suave inicial que sensibiliza os corpos seja com a ponta dos dedos ou dos mamilos.

No curso, vaselina inodora substitui o gel nuru, quatro vezes mais caro. Mas a ginástica lasciva pode ser feita também com óleos de coco, amêndoa e girassol. O bálsamo passa primeiro pela mão de quem massageia para esquentá-lo. "Cuidado para não exagerar e deixar transbordar para o chão porque aí os pés e os joelhos do atendente vão escorregar e não vai conseguir se posicionar", alerta Mari.

Ela avança sobre o corpo alheio, ato que chama de "andar da tigresa": as mãos espalmadas vão pesando uma após a outra na pessoa de bruços como se uma felina caminhasse sobre a presa das pernas até os ombros - só evitando a área dos joelhos e cóccix, mais sensíveis.

Mari vai fazendo seus rasantes untados em cima de um aluno veterano e explicando para os novatos. "Nada de mergulhos ou acrobacias, porque alguém pode sair machucado. Usar muito bumbum também é desnecessário. Não fiquem cavalgando, os movimentos são de deslizamento contínuo", instrui. O segredo está em equilibrar carga e sutileza.

O ÓLEO E A TROCA

"A maioria dos cursos enche linguiça. Muita palestra, muita dança com gente pelada gritando 'foda-se!'. Aqui é tudo muito prático", define Mari. Então, começam as trocas entre os discípulos. Primeiro, os homens massageiam as mulheres. Não tem nada de cavalheiresco nisso. A razão é prática: em caso de gozo, os rapazes demoram muito mais para recuperar a energia sexual.

Um tubo de vaselina, um maço de papel toalha, um par de luvas de vinil e um vibrador em forma de bastão ficam logo ao lado. Depois de pedir permissão e agradecer por acessar outro corpo, inicia a série de manipulações que misturam escolas indianas, chinesas e japonesas, seguindo as ordens vindas pelo microfone. Auxiliares circulam entre os casais para corrigir execuções e conceder momentos de "massagem a quatro mãos".

Aliso virilha e depois tateio o osso púbico com uma mão, enquanto a outra rastreia o resto do corpo para "espalhar a energia" em carícias alternadas e sincronizadas. Ouço a instrução de dar nove voltas em cada mamilo e obedeço. Depois a determinação são três beliscadas suaves em cada grande lábio. Na hora de manipular o clítoris, um colega reclama da luz baixa que dificulta ainda mais a localização do órgão encapsulado.

Na parte da nuru, resvalo com meu peito pelas pernas femininas, mas no final do movimento acabo enfiando a cara na bunda. Um ajudante se aproxima e me aconselha a virar o rosto para um dos lados e evitar a trapalhada. Como sou alto, evito colocar todo meu peso, mas logo recebo o comando da parceira: "Pode se jogar, eu aguento."

No desfecho com o vibrador, novamente sou incentivado a ir com tudo, depois de um começo em que tento achar o melhor ângulo para o aparelho e fico com receio de desligá-lo, afinal, o botão de on/off está bem ao lado dos meus dedos: "Empurra. Põe seu peso". É a força que eu colocaria em uma furadeira diante de uma parede de concreto. Mas faz efeito: as contorções viram gritos que anunciam o orgasmo. Os dois saem da sessão pingando suor e óleo. Depois dos calores corporais, é a hora das quentinhas do almoço.

MELHOR QUE SEXO

É apenas um punho que encosta no períneo, mas esse toque faz subir uma espiral elétrica até a cabeça. O corpo é esquadrinhado em latitudes e meridianos. As costas descolam do chão em um movimento involuntário, quase levitando. Quando a mão dela começa a deslizar a partir da virilha, passando pelo púbis e indo em direção ao peito, a sensação é que mil línguas de fogo percorrem a epiderme.

"Uma boa manobra é melhor que qualquer vagina ou boca. Dá para fazer um pompoarismo bem mais forte e simular um oral perfeito só com a mão", afirma Mari.

A técnica inclui percussão com as falanges nos testículos e uma série de movimentos no pau com nomes engraçados, como foguinho, chuveirinho e brigadeiro - esse último, imitando como se molda o doce, foi o responsável pela explosão de prazer que me deixou com formigamento nas mãos e no queixo por cinco minutos. Durante esse tempo, sinto uma expansão e percebo que eu não acabo nas minhas terminações nervosas. Quando descrevo o potente gozo para Mari, ela resume o que aconteceu: "Dá um barato mesmo. Tem gente que fica até catatônica".

Encerrado o curso (só faltava entregar os diplomas), a caixa de luz da casa pegou fogo, enquanto os alunos faziam fila para tomar banho e tirar o óleo do corpo. A frágil fiação não aguentou as duchas ligadas constantemente. Mas a piada ali era que a energia sexual estava tão intensa que causou um curto-circuito e o blecaute.

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